Prosimetron

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sábado, 21 de julho de 2018

A refeição de Salazar

Lisboa: Âncora, 2018

Enquanto Salazar esteve internado no Hospital da Cruz Vermelha, todos os dias com o boletim clínico era transmitido o menu da sua refeição. Um dia…
«Maurício [de Oliveira, chefe de redação de A Capital] almoçava geralmente na redação, para não perder tempo. Recebia o menu de uma casa de pasto existente na Calçada do Combro (esquina da Rua do Século)* e fazia a encomenda por escrito. Assim, procedeu num belo dia, chamando o contínuo para fazer chegar o papel ao seu destino.
«O pobre funcionário, porém, atrapalhou-se e entendeu que aquele papelinho seria para a tipografia. Aqui, o respetivo chefe, Almiro Soares, rabujou: “Qualquer dia, vou para redator. Estes tipos agora nem a prosa fazem”. E lá pôs, no meio das notícias sobre Salazar, que “o senhor Presidente tinha almoçado sopa, pescada cozida, uma pera, meia garrafa de vinho do Dão”.
«Maurício, estranhando a demora do restaurante, telefonou para lá. O papel devia ter desaparecido no caminho e fez a encomenda pelo telefone. Estava a almoçar quando chegaram as provas da tipografia. “Tem graça! O Salazar teve um almoço exatamente igual ao meu!” , começou a dizer. Mas o facto de o doente se ter batido com os 3 dl do Dão fê.lo despertar.
«Barafustou, pronunciou delicados impropérios. Mas já era tarde: segundo a primeira edição desse dia, Salazar, quisesse ou não, tinha comido pescada, regada com vinho da sua zona.» (p. 67-68)
Appio Sottomayor

*Deve ser o Sinal Verde.

2 comentários:

Rui Luís Lima disse...

Na época era ainda criança, mas quando estava a meio da leitura do post, fugiu-me uma gargalhada e visualizei a cena:)
Bom fim-de-semana!

MR disse...

Acho que já tinha ouvido esta história, mas fartei-me de rir. Um doente em coma (ou quase) a beber uma garrafa de 3 dl de vinho. :-)))
Bom domingo!