Muitas são as iniciativas que comemoram o centenário do nascimento de Ian Fleming este ano. A efeméride passou naturalmente também por Portugal. Ainda no passado dia 28 de Maio, teve lugar uma conferência organizada pela Câmara Municipal de Cascais que evocou a passagem de Fleming pelo Estoril em 1941.
Há precisamente 45 anos, Terence Young realizava o segundo filme baseado na obra literária de Fleming, From Russia with Love (007 – Ordem para matar). James Bond (Sean Connery) combatia, ao lado da agente russa Tatiana Romanova (Daniela Bianchi), a organização S.P.E.C.T.R.E. A película terminaria em Veneza ao som da banda sonora, cantada pela bela voz de Matt Monro. Connery e Bianchi , numa góndola, estariam finalmente salvos de todos os perigos e vilões da fita – o último na pessoa da agente do KGB, Rosa Klebb, interpretada por uma das mais interessantes e misteriosas actrizes e cantoras do século passado, Lotte Lenya.
Lotte Lenya (Karoline Wilhelmine Charlotte Blamauer) nasce num subúrbio de Viena a 18 de Outubro de 1898. A infância e juventude são difíceis. O pai é alcoólico e violento para com a mãe e a pequena “Linerl”. Segundo algumas biografias, Lotte ter-se-á prostituido a partir dos seus 14 anos para assim sustentar a sua família. O seu destino muda, e para melhor, quando visita pela primeira vez a Suíça juntamente com uma tia. Adquire as suas primeiras experiências como bailarina e actriz em Zurique onde, no teatro Schauspielhaus, encontra Elisabeth Bergner, um dos grandes nomes do teatro e cinema alemães. Lenya, assim recordava Bergner, estava sempre na companhia de militares e “os boatos acerca da sua lascívia eram enormes”. Era no entanto bem disposta por natureza. “À volta dela, havia sempre uma aura do proibido. Tudo nela era muito interessante!”
Em 1924, conhece Kurt Weill em Berlim. Casa com o compositor em Janeiro de 1926. O matrimónio rege-se por abertura, tanto Kurt como Lotte vivem assumidamente relações extraconjugais. Weill trabalha com Bert Brecht, nasce a primeira obra em palco, a peça “Ascensão e queda da cidade de Mahagony” em que Lenya desempenha um pequeno, mas importante papel. A 31 de Agosto de 1928, estreia em Berlim “A ópera dos três vinténs”. Adaptada à Beggar´s opera de John Gray, torna-se um enorme êxito em Berlim. E eis a primeira artista a interpretar o papel da Spelunkenjenny (A Jenny da espelunca) – Lotte Lenya.
Weill descreve a sua mulher como “doméstica miserável, mas muito boa actriz. Não sabe ler uma pauta, mas quando canta, a atenção do público é como se fosse um Caruso a cantar.”
A 30 de Janeiro de 1933, Hitler sobe ao poder. “A ópera dos três vinténs”, imoral à luz dos novos padrões, é retirada do cartaz. O “triunvirato” Weill-Brecht-Lenya emigra para os Estados Unidos após uma breve passagem por França.
Weill, de origem judia, inicia uma nova carreira. Rapidamente apercebe-se de que o mercado norte-americano é propício a uma renovação do género operático. Gershwin tinha composto em 1935 “Porgy and Bess”, uma das primeiras “óperas americanas”. Com o seu falecimento prématuro em 1937, poucos são no entanto os compositores americanos que seguem a tentativa de fundir uma música ligeira de nível superior com elementos do jazz. Weill é requisitado para a Broadway, trabalha incessantemente até triunfar com Lady in the Dark em 1941.
E Lotte? Separada alguns meses do marido, divorcia-se de Weill em 1933 para, quatro anos mais tarde, voltar a casar com ele. Poucos são os convites para poder actuar em Nova Iorque.
A morte de Weill a 3 de Abril de 1950 marca profundamente Lotte. Entra em litígio com Brecht e Helene Weigel, esposa de Brecht, que reclamam os direitos de autor das obras criadas com Weill. Continua a viver nos Estados Unidos onde é convidada, mais uma vez, a cantar a Jenny da "Ópera dos três vinténs": a partir de 1954 e durante quase sete anos, a peça sobe 2707 vezes ao palco. Lotte Lenya torna-se finalmente conhecida, por esforço e mérito próprios. Recebe o Tony Award em 1956.
Hollywood descobre Lenya nos anos 60. Ao lado de Vivien Leigh, representa em 1961 a Condessa Magda Terribili-Gonzales na adaptação cinematográfica de The roman spring of Mrs. Stone de T. Williams. É nomeada para o Óscar de melhor actriz secundária. Outras passagens pelo grande écran mostram Lenya na já referida agente sádica Rosa Klebb em From Russia with Love (1963) ou no papel de Emma Valadier no filme The Appointment (1969) ao lado de Omar Sharif e Anouk Aimée.
Ao mesmo tempo, Lenya continua a divulgar a obra de Weill e Brecht em várias digressões pela Europa. A sua “Mãe Coragem” no festival Ruhrfestspiele na Alemanha em 1965 é lendária.
Após a morte de Weill, Lenya casou ainda três vezes (George Davis, Russell Detweiller e Richard Siemanowski).
Faleceu a 27 de Novembro de 1981 em Nova Iorque. Seu último repouso encontra-se num mausoléu em Mount Repose Cemetery (Nova Iorque) ao lado de Kurt Weill.
Há precisamente 45 anos, Terence Young realizava o segundo filme baseado na obra literária de Fleming, From Russia with Love (007 – Ordem para matar). James Bond (Sean Connery) combatia, ao lado da agente russa Tatiana Romanova (Daniela Bianchi), a organização S.P.E.C.T.R.E. A película terminaria em Veneza ao som da banda sonora, cantada pela bela voz de Matt Monro. Connery e Bianchi , numa góndola, estariam finalmente salvos de todos os perigos e vilões da fita – o último na pessoa da agente do KGB, Rosa Klebb, interpretada por uma das mais interessantes e misteriosas actrizes e cantoras do século passado, Lotte Lenya.
Lotte Lenya (Karoline Wilhelmine Charlotte Blamauer) nasce num subúrbio de Viena a 18 de Outubro de 1898. A infância e juventude são difíceis. O pai é alcoólico e violento para com a mãe e a pequena “Linerl”. Segundo algumas biografias, Lotte ter-se-á prostituido a partir dos seus 14 anos para assim sustentar a sua família. O seu destino muda, e para melhor, quando visita pela primeira vez a Suíça juntamente com uma tia. Adquire as suas primeiras experiências como bailarina e actriz em Zurique onde, no teatro Schauspielhaus, encontra Elisabeth Bergner, um dos grandes nomes do teatro e cinema alemães. Lenya, assim recordava Bergner, estava sempre na companhia de militares e “os boatos acerca da sua lascívia eram enormes”. Era no entanto bem disposta por natureza. “À volta dela, havia sempre uma aura do proibido. Tudo nela era muito interessante!”
Em 1924, conhece Kurt Weill em Berlim. Casa com o compositor em Janeiro de 1926. O matrimónio rege-se por abertura, tanto Kurt como Lotte vivem assumidamente relações extraconjugais. Weill trabalha com Bert Brecht, nasce a primeira obra em palco, a peça “Ascensão e queda da cidade de Mahagony” em que Lenya desempenha um pequeno, mas importante papel. A 31 de Agosto de 1928, estreia em Berlim “A ópera dos três vinténs”. Adaptada à Beggar´s opera de John Gray, torna-se um enorme êxito em Berlim. E eis a primeira artista a interpretar o papel da Spelunkenjenny (A Jenny da espelunca) – Lotte Lenya.
Weill descreve a sua mulher como “doméstica miserável, mas muito boa actriz. Não sabe ler uma pauta, mas quando canta, a atenção do público é como se fosse um Caruso a cantar.”
A 30 de Janeiro de 1933, Hitler sobe ao poder. “A ópera dos três vinténs”, imoral à luz dos novos padrões, é retirada do cartaz. O “triunvirato” Weill-Brecht-Lenya emigra para os Estados Unidos após uma breve passagem por França.
Weill, de origem judia, inicia uma nova carreira. Rapidamente apercebe-se de que o mercado norte-americano é propício a uma renovação do género operático. Gershwin tinha composto em 1935 “Porgy and Bess”, uma das primeiras “óperas americanas”. Com o seu falecimento prématuro em 1937, poucos são no entanto os compositores americanos que seguem a tentativa de fundir uma música ligeira de nível superior com elementos do jazz. Weill é requisitado para a Broadway, trabalha incessantemente até triunfar com Lady in the Dark em 1941.
E Lotte? Separada alguns meses do marido, divorcia-se de Weill em 1933 para, quatro anos mais tarde, voltar a casar com ele. Poucos são os convites para poder actuar em Nova Iorque.
A morte de Weill a 3 de Abril de 1950 marca profundamente Lotte. Entra em litígio com Brecht e Helene Weigel, esposa de Brecht, que reclamam os direitos de autor das obras criadas com Weill. Continua a viver nos Estados Unidos onde é convidada, mais uma vez, a cantar a Jenny da "Ópera dos três vinténs": a partir de 1954 e durante quase sete anos, a peça sobe 2707 vezes ao palco. Lotte Lenya torna-se finalmente conhecida, por esforço e mérito próprios. Recebe o Tony Award em 1956.
Hollywood descobre Lenya nos anos 60. Ao lado de Vivien Leigh, representa em 1961 a Condessa Magda Terribili-Gonzales na adaptação cinematográfica de The roman spring of Mrs. Stone de T. Williams. É nomeada para o Óscar de melhor actriz secundária. Outras passagens pelo grande écran mostram Lenya na já referida agente sádica Rosa Klebb em From Russia with Love (1963) ou no papel de Emma Valadier no filme The Appointment (1969) ao lado de Omar Sharif e Anouk Aimée.
Ao mesmo tempo, Lenya continua a divulgar a obra de Weill e Brecht em várias digressões pela Europa. A sua “Mãe Coragem” no festival Ruhrfestspiele na Alemanha em 1965 é lendária.
Após a morte de Weill, Lenya casou ainda três vezes (George Davis, Russell Detweiller e Richard Siemanowski).
Faleceu a 27 de Novembro de 1981 em Nova Iorque. Seu último repouso encontra-se num mausoléu em Mount Repose Cemetery (Nova Iorque) ao lado de Kurt Weill.
Que curioso, ainda esta semana pensei em Lotte Lenya: fui ver o novo Indiana Jones e achei o personagem interpretado por Cate Blanchett muito reminiscente de Rosa Klebb. Depois lembrei-me das músicas, de Weill e da inevitável comparação com Ute Lemper, em que ambas conseguem sair a ganhar, uma impossibilidade! Foi um sorriso fácil.
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