sábado, 21 de junho de 2008

My Fair Lady na Ópera de Sydney


Estive esta noite a assistir ao musical "My Fair Lady" de Alan Jay Lerner e Frederick Loewe na Ópera de Sydney - por estes lados foi muito controverso que a Ópera levasse à cena um musical, peça menos nobre; até o patrocinador fez anúncios à propos da ousadia (em prol, entenda-se). Curiosamente, a sala estava absolutamente esgotada; hoje havia mais pessoas de traje a rigor que habitualmente e não havia ninguém (que eu visse) de calças de ganga.

É sempre um prazer revisitar "My Fair Lady", nas palavras do New York Times "the perfect musical". A sucessão de "Wouldn't It Be Loverly", "The Rain in Spain", "I Could Have Danced All Night", "On The Street Where You Live",... é um reencontro muito grato. Para quem cresceu com o filme, há uma comparação incontornável com a luminosa Audrey Hepburn e a estridência de Marni Nixon, ou o poder cabotino de Rex Harrison (e para quem viu o musical original na Broadway, a "injustiça" a Julie Andrews também oferece polémica). Embora não façam sombra sobre o meu imaginário, os cantores desta noite estiveram muito bem. Gostei particularmente dos personagens Alfred Doolittle e Mrs Higgins, muito bem conseguidos, porventura mais fortes que no filme. A encenação foi superior e o guarda-roupa não envergonharia Cecil Beaton.

À medida que o musical se foi desenrolando, foi fascinante ver as expressões de felicidade das pessoas à minha volta: ou meneando alegremente a cabeça, ou cantarolando muito baixinho ou, no caso de um senhor de muita idade que estava ao meu lado, segredando recordações à mulher (bem, à senhora que o acompanhava, não há que fazer presunções) e rindo. Não costuma acontecer, pelo menos de forma tão generalizada e expressiva, nas óperas "clássicas".

Por ser na Austrália e o musical tratar de sotaques, achei imensa graça ao comentário de uma criancinha (seis anos? sete?) que estava atrás de mim. Quando a Eliza vocalizou o poderoso "The rain in Spain stays mainly in the plain" no inglês correcto, diz a criança para a mãe - "mas ela disse da mesma maneira..." De facto, o sotaque australiano com o seu twang faz o sotaque cockney parecer Oxfordiano... O catálogo era notável, cheio de informação interessante sobre a passagem de "Pigmaleão" a "My Fair Lady" e à recepção na Broadway (estreado em 1956, bateu o record de longevidade na sua passagem inaugural).
Está em cena até 4 de Agosto.

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