" (...) Filho de uma actriz famosa na época, Gustav Meyer, que viria a alterar o seu apelido para Meyrinck, nasceu em Viena em 1868. Morreu em 1932, em Starnberg, na Baviera, na margem de um lago, quase à sombra dos Alpes.
Meyrinck acreditava que o reino dos mortos penetrava no mundo dos vivos e que o nosso mundo visível era incessantemente invadido pelo outro mundo, invisível. "
- Jorge Luís Borges, Introdução a O Cardeal Napellus , de Gustav Meyrinck,trad.port. de Maria Jorge Vilar de Figueiredo, Editorial Presença ( Biblioteca de Babel ) , Lisboa, 2007 .
Depois percebi porque é que os meus olhos se detiveram neste volume. Sábado passado, 14 de Junho, era o aniversário da morte de Borges, um dos deuses do meu panteão literário.
Ao reler as palavras de Borges sobre Gustav Meyrinck, vejo pela primeira vez a coincidência : Meyrinck a morrer junto ao lago de Starnberg, o mesmo lago bávaro onde morreu Luís da Baviera num dia 13 de Junho, um dia antes de Borges embora com várias décadas de permeio.
Claro, não há coincidências, é esse mesmo o sentido da sincronicidade...
Já agora, se alguém conhecer uma tradução inglesa, francesa ou castelhana de Das grune Gesicht do Meyrinck, agradeço que me informe. Há anos que tenho essa leitura adiada.
Aqui fica, para dar uma amostra do estilo de Meyrinck, um excerto do livro introduzido por Borges e acima citado :
" Nos meus vales, existe uma seita religiosa denominada os Frades Azuis; quando um deles sente aproximar-se o fim, faz-se sepultar vivo. O convento ainda existe; por cima do portal, está o brasão esculpido na pedra: uma flor venenosa com cinco pétalas azuis, e a pétala superior parece o capuz de um monge. É o aconitum napellus ou napelo azul .
Era ainda um rapaz quando me refugiei na ordem dos Frades Azuis e era quase um velho quando a abandonei.
Dentro dos muros do convento, há um jardim onde, no Verão, floresce um canteiro repleto dessas mortíferas plantas azuis , que os monges regam com o sangue das chagas abertas pelo cilício. Quem passa a fazer parte da comunidade tem de plantar uma dessas flores, que recebe como no baptismo o nome do neófito. "
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