A Cinemateca parte para férias em Agosto. Merecidamente.
Como oferta de despedida, está a proporcionar ao seu público o belíssimo ciclo “Divas às Matinés” durante este mês. Entre as actrizes escolhidas, encontram-se Greta Garbo, Ingrid Bergman, Elizabeth Taylor e Audrey Hepburn. Amanhã, dia 11 de Julho, às 15.30h, Mrs Audrey Hepburn e Mr Cary Grant entram em cena no comedy-thriller "Charade” de 1963, realizado por Stanley Donen.
Regina Lampert (Audrey Hepburn), ou simplesmente Reggie, é uma senhora americana elegante e financeiramente bem situada. Regressa de férias de ski nos Alpes suíços, e as surpresas não se fazem esperar: Reggie encontra a sua casa em Paris em estado de sítio e encontra o seu ex-marido Charles na morgue. Perturbada (mas não muito, pois trata-se de um ex-marido misterioso e pouco acessível enquanto vivo), aceita de bom grado a ajuda de Peter Joshua (Cary Grant) com quem se cruzara poucos dias antes na Suíça. Citada para apresentar-se na Embaixada dos Estados Unidos no dia seguinte, conhece Hamilton Bartholomew (Walter Matthau) e vem a saber que Charles terá retido ouro no valor de 250.000 dólares a três amigos cúmplices com quem terá roubado esta fortuna durante a Segunda Guerra Mundial. Mas com o desaparecimento súbito de Charles, desaparece também o paradeiro do dinheiro.
Pouco tempo depois, Reggie tem o prazer de conhecer pessoalmente os três indivíduos: o pseudo-cowboy Tex (James Coburn), o maneta Scobie (George Kennedy) e o tímido Gideon (Ned Glass). Os três, unidos pela mesma causa, suspeitam que Reggie tenha a quantia algures escondida. A protagonista escapa às tentativas de homicídio, graças a Peter Joshua. Contudo, à medida que Tex, Scobie e Gideon são misteriosa e mortalmente afastados do circuito, Reggie começa a duvidar da identidade e idoneidade de Peter. Descobre então que Charles trocou o ouro por um selo muito valioso. A quem entregar o selo? A Peter ou a Hamilton?
Reggie é perseguida por Peter numa corrida verdadeiramente impressionante pelas estações do metro de Paris até chegar ao Palais Royal, onde a perseguição continua, com Hamilton à espera dos dois. A Comédie Française serve de cenário final para desvendar o mau da fita que acaba por morrer de forma literalmente teatral…
Charade foi naturalmente um sucesso de bilheteira. Naturalmente, por vários motivos.
Stanley Donen recorreu à técnica de Hitchcock, inspirando-se concretamente em North by Northwest (1959). Os admiradores incondicionais de Hitchcock dirão que Charade não chega aos calcanhares do velho mestre… Talvez.
No entanto, a película prima pela alternância das situações: passagens pouco estéticas, próprias de um crime (?), são imediatamente seguidas de cenas encantadoras e repletas de humor, para dar novamente lugar a ocorrências da categoria anterior. Momentos alegres convertem-se em suspense e vice-versa. A montagem, a dramaturgia e a banda sonora submetem-se a este princípio.
O êxito de Charade deve-se ainda a outro aspecto: o filme é resultado de um excelente trabalho em equipa.
Grant e Hepburn, símbolos de uma elegância e de um género de cinema lamentavelmente já muito longínquos, tiveram finalmente a oportunidade de contracenar juntos, após as tentativas frustradas de Sabrina e Love in the afternoon, em que o leading man, inicialmente destinado a Grant, acabara por ser atribuído a Bogart/Holden e Gary Cooper respectivamente. A colaboração entre Grant e Hepburn em Charade foi de óptima disposição e de amizade. “All I want for Christmas was immediately to shoot another movie with Audrey Hepburn”, palavras de Grant que dizem tudo.
Como oferta de despedida, está a proporcionar ao seu público o belíssimo ciclo “Divas às Matinés” durante este mês. Entre as actrizes escolhidas, encontram-se Greta Garbo, Ingrid Bergman, Elizabeth Taylor e Audrey Hepburn. Amanhã, dia 11 de Julho, às 15.30h, Mrs Audrey Hepburn e Mr Cary Grant entram em cena no comedy-thriller "Charade” de 1963, realizado por Stanley Donen.
Regina Lampert (Audrey Hepburn), ou simplesmente Reggie, é uma senhora americana elegante e financeiramente bem situada. Regressa de férias de ski nos Alpes suíços, e as surpresas não se fazem esperar: Reggie encontra a sua casa em Paris em estado de sítio e encontra o seu ex-marido Charles na morgue. Perturbada (mas não muito, pois trata-se de um ex-marido misterioso e pouco acessível enquanto vivo), aceita de bom grado a ajuda de Peter Joshua (Cary Grant) com quem se cruzara poucos dias antes na Suíça. Citada para apresentar-se na Embaixada dos Estados Unidos no dia seguinte, conhece Hamilton Bartholomew (Walter Matthau) e vem a saber que Charles terá retido ouro no valor de 250.000 dólares a três amigos cúmplices com quem terá roubado esta fortuna durante a Segunda Guerra Mundial. Mas com o desaparecimento súbito de Charles, desaparece também o paradeiro do dinheiro.
Pouco tempo depois, Reggie tem o prazer de conhecer pessoalmente os três indivíduos: o pseudo-cowboy Tex (James Coburn), o maneta Scobie (George Kennedy) e o tímido Gideon (Ned Glass). Os três, unidos pela mesma causa, suspeitam que Reggie tenha a quantia algures escondida. A protagonista escapa às tentativas de homicídio, graças a Peter Joshua. Contudo, à medida que Tex, Scobie e Gideon são misteriosa e mortalmente afastados do circuito, Reggie começa a duvidar da identidade e idoneidade de Peter. Descobre então que Charles trocou o ouro por um selo muito valioso. A quem entregar o selo? A Peter ou a Hamilton?
Reggie é perseguida por Peter numa corrida verdadeiramente impressionante pelas estações do metro de Paris até chegar ao Palais Royal, onde a perseguição continua, com Hamilton à espera dos dois. A Comédie Française serve de cenário final para desvendar o mau da fita que acaba por morrer de forma literalmente teatral…
Charade foi naturalmente um sucesso de bilheteira. Naturalmente, por vários motivos.
Stanley Donen recorreu à técnica de Hitchcock, inspirando-se concretamente em North by Northwest (1959). Os admiradores incondicionais de Hitchcock dirão que Charade não chega aos calcanhares do velho mestre… Talvez.
No entanto, a película prima pela alternância das situações: passagens pouco estéticas, próprias de um crime (?), são imediatamente seguidas de cenas encantadoras e repletas de humor, para dar novamente lugar a ocorrências da categoria anterior. Momentos alegres convertem-se em suspense e vice-versa. A montagem, a dramaturgia e a banda sonora submetem-se a este princípio.
O êxito de Charade deve-se ainda a outro aspecto: o filme é resultado de um excelente trabalho em equipa.
Grant e Hepburn, símbolos de uma elegância e de um género de cinema lamentavelmente já muito longínquos, tiveram finalmente a oportunidade de contracenar juntos, após as tentativas frustradas de Sabrina e Love in the afternoon, em que o leading man, inicialmente destinado a Grant, acabara por ser atribuído a Bogart/Holden e Gary Cooper respectivamente. A colaboração entre Grant e Hepburn em Charade foi de óptima disposição e de amizade. “All I want for Christmas was immediately to shoot another movie with Audrey Hepburn”, palavras de Grant que dizem tudo.
A ajudar ao team work, estiveram Hubert de Givenchy, amigo e couturier predilecto de Hepburn, e Henri Mancini, responsável pela banda sonora desta película, bem como de filmes anteriores (e posteriores) com Hepburn: Moon River de Breakfast at Tiffany’s de 1961 foi, sem dúvida alguma, composto especialmente para Audrey. Audrey e mais ninguém seria capaz de expressar o sentimento à volta do nosso amigo Huckleberry …
Última nota: Stanley Donen teve o privilégio de testemunhar uma das últimas aparições em público de Hepburn, durante o festival de cinema de Munique em 1992. Interrogada por uma jornalista sobre se havia algo na sua vida que lamentava não ter feito, a actriz respondeu: "Nothing. Absolutely nothing. Except maybe the fact that, instead of having done only three films with Donen, I would like to have done six.”
Donen, por sua vez, retorquiu: “It’s not too late…”.
Infelizmente, seria demasiado tarde. Audrey Hepburn viria a falecer poucos meses depois.
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