A inauguração da dependência do Madame Tussaud londrino em Berlim, no passado dia 5 de Julho, foi noticiada em todo o mundo com a devida atenção. A capital alemã que já dispunha de uma rica e diversificada oferta de museus, passa a ter mais uma atracção na belíssima avenida Unter den Linden, a pouca distância do Reichstag e da Porta de Brandenburgo.
Do conhecimento geral será também o incidente registado no dia de abertura. A decapitação da figura de Hitler por um ex-polícia de 41 anos que, segundo as últimas notícias, terá cometido este crime por vários motivos, entre eles a perda de uma aposta. A réplica do Führer que representa um investimento de 200.000 € foi destruída "com muita satisfacção", assim afirma Frank L., já que a figura do ex-chanceler Willy Brandt, exilado durante o regime nazi, se encontrava vis-à-vis da de Hitler e "assistiu", assim, em pleno à execução do seu inimigo.
Não se trata, portanto, de nenhuma novidade.
Interessante é a abordagem da imprensa alemã. A título de exemplo, refira-se um comentário do jornalista Peter Kümmel na edição do Die Zeit de 10 de Julho. Título do artigo: "Decapitar Hitler - o longo caminho da resistência alemã ainda não acabou". Aqui uma breve síntese:
A resistência contra Hitler está no bom caminho. Muitos alemães aderiram já na década de 50. Ainda no ano passado, o realizador Florian Henckel von Donnersmarck, premiado em 2007 com o óscar para melhor filme estrangeiro com a película "As vidas dos outros", anunciara ao povo alemão que Tom Cruise representará o Conde von Stauffenberg e, com a aura do seu estrelato, contribuirá muito mais para a imagem da Alemanha do que a organização de dez campeonatos mundiais de futebol!
O ex-polícia Frank L. escreveu mais um capítulo na história da resistência o que equivale, no mínimo, aos oitavos-de-final de um campeonato. Escolheu o caminho certo de resisitir. Aliás, esta oportunidade deveria estar ao alcance de todos os alemães: a sós com o tirano, saudá-lo com Nie wieder Krieg (guerra nunca mais) e decapitá-lo de seguida.
Pois a essência da arte das figuras de cera, bem como de toda a investigação na história da humanidade, consiste na vitória simbólica dos pequenos sobre os grandes maus da fita: a própria Madame Tussaud iniciou a sua carreira com máscaras das vítimas da Revolução Francesa (Luís XVI, Marie Antoinette ou Danton), proporcionando aos franceses a sensação de ter sobrevivido àqueles que os tinham dominado.
Frank L. sentiu a mesma superioridade.
No entanto, o sentimento foi de pouca dura. O doente Hitler foi, por via aérea, enviado para a Inglaterra (!) com máxima urgência, como se de um importante paciente se tratasse. Está a ser recuperado nos estúdios do Madame Tussaud em Londres para rapidamente poder voltar a Berlim.
Os estrangeiros não suportam os alemães, pelo menos, sem Hitler, assim conclui Peter Kümmel.
Colocarem a figura de Hitler, sem mais, num Museu de Cera é ultrajante. Estava mesmo a pedir que alguém mostrasse a sua indignação.
ResponderEliminarCurioso, a mim não me choca nada. Já não sei quem disse / escreveu "Quem esquece os erros do passado está condenado a repeti-los..."
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