Será desnecessário dizer que vários museus londrinos merecem visitas repetidas: ou o espólio é inesgotável e, por isso, somos "obrigados" a múltiplas "peregrinações", como no caso da National Gallery e do V&A Museum, ou as peças expostas são de tal beleza que nos apaixonamos por elas e voltamos a admirá-las como se de alguém especial se tratasse. E em muitos exemplos, ambas as categorias sobrepõem-se.
A oferta da Dulwich Picture Gallery ou da Wallace Collection será mais reduzida em comparação com a riqueza de outras casas, ainda assim, a ida a Dulwich nos arredores de Londres ou a Manchester Square em pleno centro torna-se sempre num highlihgt.
O ex-libris da Wallace Collection é o quadro The laughing cavalier do pintor holandês Frans Hals (1580 ? - 1660).
O nome The laughing cavalier foi atribuído posteriormente, entre 1875 e 1888. No entanto, nem o nosso protagonista é cavaleiro (ou será "cavalheiro" a tradução mais correcta, pois ambas as versões circulam pelo mundo fora..., os estimados leitores e peritos anglo-saxónicos esclarecer-me-ão ), nem ele se ri. A inscrição no quadro indica-nos apenas que tinha 26 anos em 1624, quando foi retratado. Não existe qualquer outra "pista" que nos ajude a identificá-lo.
O guarda-roupa distingue-se pelos bordados sofisticados com motivos de prazer e de dor, próprios de alguém fallen in love, tais como flechas ou setas. Estas alusões românticas sugerem que o retratado já seria noivo ou, com esta "fotografia", se apresentaria à futura esposa. Em todo o caso, vemos um contemporâneo de Hals manifestamente bem abastecido, bem vestido e, de forma geral, bem na vida.
O olhar simpático do caval(h)eiro mistura-se talvez com uma certa ironia ou algum gozo com o espectador. O quadro transmite-nos uma sensação contraditória: sentimos um à-vontade familiar, mas ao mesmo tempo resta um enigma ou uma distância mística.
The laughing cavalier é representativo da técnica brilhante de Frans Hals. Os tecidos diferentes e os detalhes riquíssimos do vestuário, incluindo o chapéu, foram capturados com máxima precisão e expressão, as transições são contudo fluídas e pouco severas.
As obras de Hals caíram em esquecimento durante séculos até à célebre venda da colecção de James-Alexandre, Conde de Pourtalès-Gorgier, em 1865 em Paris: o 4º Marquis of Hertford e seu amigo, James de Rothschild, disputaram a aquisição do retrato, tendo o Marquis ganho a corrida com a licitação de aproximadamente 45.000 francos.
A partir daí, The laughing cavalier tornou-se rapidamente conhecido e popular, e com ele, Frans Hals regressou ao elenco dos principais artistas da pintura ocidental.
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