" (...) O ritual da caixa no filme Dune de David Lynch oferece-nos deste sofrer por ser, sofrer por conhecer-se como carne, desta resistência da carne a ser apenas carne, uma percepção terrível e exaltante : o jovem eleito coloca a mão direita, por uma abertura lateral, dentro de uma caixa, sabendo que o que está lá dentro se chama dor. A pouco e pouco sente uma ligeira comichão, que se torna cada vez mais insuportável até se transformar em sensação de queimadura, primeiro vê a sua pele a crestar, depois vê bocados da mão a cair. Visões da dor que ele experimenta e que terá de vencer, se não será ela a vitimá-lo. E isso é o que o corpo não deseja e é isso o que o corpo mais teme, e por isso o nihilismo ronda infalivelmente - e por isso sejam louvados os que resistem ao seu império - aqueles que estudam a nossa carne . "
- Maria Filomena Molder, Princípios de método-1 , in A IMPERFEIÇÃO DA FILOSOFIA , Relógio D'Água Editores, 2003, 107.
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