sábado, 5 de julho de 2008

Voltaire: que fluido desconhecido é esse?

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"O cérebro, que se julgava ser a sede do entendimento, foi tão violentamente atacado como o coração, o qual é, dizem, a sede das paixões.
Que mecânica incompreensível submeteu os órgãos ao sentimento e ao pensamento? Como é que uma simples ideia dolorosa é capaz de perturbar a circulação do sangue? E como é que o sangue, por vezes, leva todas estas irregularidades ao entendimento humano? Que fluido desconhecido é esse, cuja existência é certa, que mais rápido, mais activo do que a luz voa em menos tempo do que um pestanejar de olhos por todos os canais da vida, produz as sensações, a memória, a tristeza ou a alegria, a razão ou a vertigem, lembra com horror o que se quer esquecer e tanto faz de um animal pensante um objecto de admiração como um motivo de piedade e de lágrimas. " [...]
Voltaire [François-Marie Arouet], L'Ingénu, © 1767

[ed. portuguesa: O Ingénuo, trad. João Gaspar Simões, Lisboa, Ulmeiro, 1999, pp. 105-106]

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