sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Companheiros, não direi que aborrecido

Companheiros, não direi que aborrecido
não estou com o que tenho visto e ouvido:
queixas de dona que os guardadores têm ferido.

Ela me diz que não há lei nem sentido
no muro que pelos três foi construído;
se um solta a rédea outro a aperta mais esbaforido.

Do que entre eles se passa não duvido:
gentil como um carroceiro é um arguido,
e os outros como a real manada fazem ruído.

Mas ouvi, guardadores, sei com quem lido,
e loucos sereis se eu não for entendido:
é raro que o que guarda nunca acabe adormecido.

Jamais vi dona tão fiel ao marido
que quando não vale o seu jogo ou prurido
não seja má para os que a tirem do caminho escolhido.

Se um bom equipamento lhe é subtraído
rouba o que mais perto tem do seu sentido;
se não pode ter cavalo, obtém palafrém luzido.

Nenhum de vós me fará um desmentido:
quando a um doente o bom vinho é proibido
deve beber água antes que a sede o estenda ao comprido.

Qualquer um bebe água antes que a sede o estenda ao comprido.
Guilherme IX de Aquitânia, Poesia;

tradução e introdução por Arnaldo Saraiva, Assírio&Alvim, 2008

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