A 27 de Agosto de 1953, estreava-se Roman Holiday no Reino Unido e nos EUA. A efeméride, ainda que antecipada – uma breve ausência a partir de terça-feira a isso obriga –, não poderia deixar de ser assinalada: Férias em Roma de William Wyler é, seguramente, um dos mais belos filmes de toda a história da Sétima Arte e revelou ao público uma das maiores artistas de todos os tempos – Audrey Hepburn.
Uma visita de Estado às principais capitais europeias leva Her Royal Highness, a princesa Anne (Audrey Hepburn), ao último destino deste “goodwill-tour”: Roma. Saturada das contingências protocolares e das inúmeras recepções enfadonhas, Anne decide fugir do palácio em que reside. Sob a influência de um sedativo a que tinha sido sujeita, a princesa acaba por adormecer num banco de um jardim.
Joe Bradley (Gregory Peck), um jornalista americano, depara-se com a misteriosa desconhecida e acolhe-a no seu apartamento. No dia seguinte, Bradley descobre a verdadeira identidade da hóspede. No entanto, a princesa apresenta-se como Anja Smith, aluna de um colégio que simplesmente faz gazeta por um dia. Na expectativa de uma reportagem sensacionalista, Bradley convida Anne (Anja) para um passeio por Roma. A beleza, o esplendor e caos da Cidade Eterna que se opõem agradavelmente à rigidez da corte, fascinam Anne. Na mira permanente de uma mini-máquina fotográfica de Irving (Eddie Albert), jornalista e amigo de Bradley, a princesa pode finalmente encantar-se com as tarefas mais simples e quotidianas com que sempre sonhou: cortar o cabelo, fumar o seu primeiro cigarro e aventurar-se à condução de uma vespa que termina na esquadra da polícia.
A sugestão para o programa do serão não parte de um adido cultural, mas sim do cabeleireiro: na companhia de Bradley e Irving, Anne diverte-se num barco onde os romanos plebeus passam as noites quentes de Verão. A ilusão termina abruptamente quando agentes secretos, à procura da princesa desaparecida, descobrem o paradeiro de Anne. A “pancadaria” entre os agentes e os apoiantes de Anne não se faz esperar, a própria princesa estreia-se, e muito bem, nesta forma de autodefesa menos aristocrática. Anne e Bradley escapam. A despedida junto do palácio revela os sentimentos que Anne e Bradley sentem. O jornalista renuncia à reportagem prevista e a 5000 dólares que a manchete lhe teria valido. Sabendo da impossibilidade de um futuro em comum, Anne e Bradley voltam a ver-se no dia seguinte numa recepção formal pela última vez.
Roman Holiday foi um dos primeiros filmes de Hollywood a realizar fora dos estúdios e exclusivamente nos locais originais em que decorre a narrativa. A legislação fiscal italiana impedia a transferência integral de lucros, gerados na península itálica, para os Estados Unidos. Os custos incorridos in loco compensariam parcialmente os proveitos. Durante as filmagens, a equipa confrontou-se com vários desafios: as temperaturas elevadíssimas, muito próprias do Verão italiano, acompanhavam a situação política escaldante nesse ano (aliás, quer o calor estival, quer a situação política italiana em nada refrescaram ao longo dos últimos 55 anos…). Greves gerais no seguimento das eleições de Maio de 1953, bem como manifestações de militantes dos vários quadrantes políticos (incluindo fascistas), foram obstáculos do dia-a-dia. Por fim, a yellow press, bem situada sobre o estado lamentável do matrimónio de Gregory Peck, muito rapidamente criou um romance entre o actor americano e Audrey. De facto, a grande amizade entre Peck e Hepburn começou em Roma, mas não teve o desenvolvimento desejado pelos papparazzi.
O argumento da película, que nos faz recordar It happened one night de Frank Capra (1934) com a dupla Gable/Colbert, projectava para o grande écran um acontecimento bem real, no sentido duplo: a princesa Margarida acabara de anunciar o seu noivado com o fotógrafo Anthony Armstrong-Jones.
Não obstante esta publicidade, Roman Holiday ficou atrás das expectativas da Paramount: em Dezembro de 1953, as receitas cifravam-se em 3 milhões de dólares, em vez dos 5 milhões previstos.
No entanto, a aura que este filme transmitiu e continua a transmitir sobrepõe-se aos factos financeiros. Roman Holiday é um dos filmes mais recordados dos anos 50. E claro, esta homenagem à Cidade Eterna proporcionou ao mundo Audrey Hepburn.
Após algumas películas e o estrondoso sucesso como Gigi na Broadway, Audrey entrava definitivamente no Olimpo dos grandes nomes da Sétima Arte. Em todo o mundo, o público rendia-se a Hepburn. Audrey era o ídolo para milhões de raparigas e sinónimo de beleza e elegância. A concordância entre Audrey e princess Anne é completa: a postura aristocrática, a delicadeza e a vulnerabilidade criam uma identidade perfeita entre actriz e o papel.
A aceitação geral deste novo tipo feminino era naturalmente garantida. Naturalmente, na medida em que os pin-up sex symbols dos anos 50 necessitavam de um contraste autêntico. A Europa “encarregou-se” de cumprir esta tarefa. Lembremo-nos da fragilidade da italiana Pier Angeli ou da francesa Leslie Caron. Contudo, na nossa memória ficou, em lugar insuperável, a belga Audrey Hepburn.
"The most exciting thing, since Garbo and our own Hepburn, Katherine" , eis o entusiasmo de Sam Goldwyn. Aos 24 anos, este "most exciting thing", viria a ganhar o Óscar de melhor actriz.
Audrey Hepburn e Gregory Peck dois actores americanos que constam da minha lista de preferidos. Foi com prazer que li este artigo.
ResponderEliminarA fotografia dos dois em frente à Boca da Verdade fez-me sentir saudades de Roma!
Gostou imenso de «Férias em Roma» e revi-o há pouco tempo.
ResponderEliminarM.
Não era «gostou», mas GOSTO imenso...
ResponderEliminarProblemas de não reler o que se escreve antes de «publicar».
M.
A cena da boca da verdade é das mais divertidas do filme...
ResponderEliminar