sábado, 9 de agosto de 2008

Maria Keil : 9 de Agosto

Maria Keil faz hoje 94 anos. Continua jovem, continua com o seu sorriso, continua a ter a alegria de uma criança.


Ilustração para o Livro de Marianinha : lengalengas e toadilhas em prosa rimada, de Aquilino Ribeiro. [© 1967 ?]

E um poema de Maria Keil, uma faceta menos conhecida:

Habito as distâncias
vivo dentro das distâncias

as tuas mãos, o teu rosto,
a claridade, que pelos teus olhos…
o mundo, que pelos teus olhos…
povoam as minhas distâncias.
Sabias?

Não. Ninguém sabe de ninguém os mundos
que cada um habita.

Falo-te. Nunca te disse.
em longas falas digo-te coisas tão particulares
de cada um de nós
de tudo em volta.
Das pequenas misérias diárias
dos pequenos nadas
do livro que se leu.
Do que se sente
do que se pressente
do que dói.
Das coisas diárias…

Do reparar nas coisas. A beleza das coisas.
Da harmonia do silêncio. A harmonia.
Das raízes sinuosas do afecto os inexplicáveis elos.

Tudo fica entre mim.
É quasi perfeito como diálogo, o nosso.
Que me responderias?
Que me poderias responder melhor
do que aquilo que te atribuo como resposta?

Na minha distância espero-te
sabendo que não sabendo tu que te espero
nunca virás.
É isso essencialmente a distância.
Aí preparo em cada dia especiais momentos
para a tua inexplicável chegada.

(In: Árvores de domingo. Lisboa, Livros Horizonte, 1986. Uma belíssima edição!)

2 comentários:

  1. Parabéns à Maria Keil!
    Os que éramos crianças há alguns (?) anos devemos-lhe a lufada de ar fresco que foram as suas ilustrações em livros como «A noite de Natal» de Sophia.
    Bem escolhida esta ilustração, pois, segundo tem afirmado em entrevistas, «O livro de Marianinha» foi um dos livros que mais gostou de ilustrar.
    As que fez, no ano passado, para «A árvore que dava olhos», de João Paulo Cotrim, são lindas. Ficamos à espera de mais...
    M.

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  2. Obrigada pela simplicidade:
    - "das coisa diárias",
    - "Do reparar nas coisas. A beleza das coisas".
    -"Da harmonia do silêncio".
    - "Das raízes sinuosas do afecto os inexplicáveis elos".

    Obrigada por fazer sentir:
    O valor das pequenas coisas que nos rodeiam.
    Do acordar e adormecer à espera...

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