domingo, 24 de agosto de 2008

NINA SCHENK CONDESSA DE STAUFFENBERG: Conclusão


“A família Stauffenberg será extinta até ao último membro,” assim anunciava Heinrich Himmler a “erradicação” da “estirpe” dos von Stauffenberg a 3 de Agosto de 1944. A fotografia, tirada por ocasião do 90º aniversário da condessa em 2003, prova que o destino teve felizmente um rumo diferente. Na imagem, Nina é rodeada de 43 descendentes.

Os meses que se seguem ao reencontro de Nina com os filhos, são difíceis. Como o resto da população alemã, os von Stauffenberg confrontam-se com as preocupações mais básicas do dia-a-dia. A escassez de bens alimentares exige de Nina uma criatividade quotidiana para poder sustentar a sua família. No entanto, a etiqueta à mesa é um must, mesmo em circunstâncias menos faustosas, conforme recorda Konstanze.
Não obstante as dificuldades, Nina acolhe familiares e amigos necessitados no seu palácio de Lautlingen que escapou aos bombardeamentos.


Konstanze von Schulthess

Após o martírio sofrido em prisão e no campo de concentração, é tempo de reflectir sobre os acontecimentos à volta do atentado e as consequências. Nina perdeu o seu marido e parte dos seus familiares, entre eles, a própria mãe que, sem qualquer envolvimento, foram vítimas da horrenda vingança do regime. O preço pelos ideais que Claus von Stauffenberg seguiu é elevadíssimo. Demasiado elevado numa perspectiva objectiva, tendo em conta a perda da própria mãe e tendo em consideração as privações e retaliações que Nina sofreu após o dia 20 de Julho de 1944.

No entanto, a forte personalidade de Nina von Stauffenberg supera todas e quaisquer dúvidas neste contexto: profundamente convicta de que a atitude e a coragem de Claus von Stauffenberg se sobrepunham como princípios da Humanidade inquestionáveis, Nina defende a posição do seu marido ao longo de toda a sua vida. Em 1996, refere que o facto de nenhuma das viúvas do 20 de Julho ter voltado a casar, manifesta bem a forte ligação que tiveram com os seus maridos.
A condessa contrapõe com veemência a opinião de alguns historiadores que acusavam von Stauffenberg de uma alegada simpatia por Hitler e pelo regime até aos primeiros “êxitos” bélicos que as tropas alemãs alcançaram após a invasão da Polónia em 1939 e da França um ano depois.


Manter a memória viva é uma das preocupações da condessa na Alemanha do pós-guerra. A opinião pública que durante os anos 50 ignorou os acontecimentos do Terceiro Reich toma, pouco a pouco, conhecimento da existência de uma Alemanha diferente entre 1933 e 1945. Toma nota de que alguns alemães, no meio de um colectivismo absoluto, discordavam com o totalitarismo e actuavam. E toma consciência de que estes indivíduos são individualidades notáveis e admiráveis, e não condenáveis, conforme muitos quadrantes sócio-políticos opinavam durante as primeiras décadas após 1945.

Nina von Stauffenberg empenha-se ainda em aproximar os alemães de outras culturas. Sua casa em Bamberg é centro de encontros e festas regulares entre alemães e americanos.


A vida de Nina von Stauffenberg é a história do século passado. Relatá-la na íntegra, é impossível. Muitos são os pormenores ocorridos entre Julho de 1944 e Junho de 1945 que ficaram omissos ao longo dos últimos capítulos. A mini-série peca, seguramente, por uma narrativa demasiado objectiva, demasiado linear, que dificilmente transmite a dimensão horrenda das circunstâncias em que alguém como Nina se encontra.

A biografia de Konstanze von Schulthess sobre Nina equivale, em primeiro lugar, a um depoimento de afecto e de amor de uma filha para com a sua mãe.
Como mais-valia histórica, revela-nos factos inéditos, de interesse para historiadores, bem como para o leitor comum.
Como testemunho para a posteridade, apresenta uma mulher extraordinária que, no anonimato durante muito tempo, lutou pelos ideais de um marido quem amou e perdeu aos 31 anos.

Se a Claus von Stauffenberg e a todos os membros activos da resistência, a Humanidade deve o respeito pela coragem inimaginável, a Nina e a todas as famílias a Humanidade deve a admiração pelo apoio incondicional com que a resistência pôde contar. Se em Claus von Stauffenberg vemos um marido, um pai e um herói, em Nina von Stauffenberg vemos uma esposa, uma mãe e uma das mais fascinantes personalidades femininas da História Contemporânea.

Nina Schenk Condessa de Stauffenberg morreu em Kirchlauter/Bamberg a 2 de Abril de 2006 aos 92 anos.

- Fim -

Nota: as imagens desta mini-série que não são do domínio público foram extraídas do livro "Nina Schenk Gräfin von Stauffenberg - Ein Porträt" de Konstanze von Schulthess, Pendo Verlag GmbH, Zurique e Munique, 2008

4 comentários:

  1. Chegou ao fim a história de Nina SchenK e, de facto, é como diz, uma "mais-valia histórica".

    Toda a narrativa revela a coragem de uma mulher que sobreviveu a um mundo hostil, desumano e incompreensível.

    Foi uma vencedora, defendeu a sua verdade e os seus ideais!

    Bem haja, por tornar esta história viva!

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  2. muito obrigado por postar esta série, em especial para as fotos

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  3. Belo texto, pagaram um grande preço para lutar pelo o que é certo, morreram com honra.

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  4. Uma representação de coragem e de fé, mesmo sem temer pela própria vida mas pela vida de muito, seu marido um homem de honra, e de uma mulher que em meio as tantas dificuldades da vida ainda obteve a vitória de assegurar o nome de sua família. Grande Mulher.

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