quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Homenagem a Alberto de Lacerda

-foto de Fernando Lemos, 1951.

Amanhã, 18 de Setembro, pelas 18h30, realizar-se-á no Auditório da FLAD ( R. do Sacramento à Lapa, 21) uma sessão de homenagem a Alberto de Lacerda(20/09/1928-26/08/2007) por ocasião dos 80 anos sobre o nascimento.
A sessão contará com intervenções de Eugénio Lisboa e Luís Amorim de Sousa, e leitura de poemas por João Grosso.

3 comentários:

  1. Gosto imenso da poesia do Alberto de Lacerda, que já andou por este blogue. Como gosto de cafés e de café, fui procurar estes dois poemas para os deixar aqui:

    A BRASILEIRA DO CHIADO

    Há momentos de amor
    De um colossal amor
    Em que este chiaroscuro
    De corredor e sala
    De sala principesca
    (Embora não à vista
    Se note seu esplendor)
    Me enche de ternura
    Sacia toda a sede
    Que eu tenho de harmonia
    Bem-estar (no bom sentido)
    Fraternidade pura

    Com amigos sem eles
    (Mas sei que já vieram
    Virão eternamente)
    Aqui flutuo calmo
    Longe da minha angústia
    Da dor universal

    Aqui um não sei quê
    Simula o paraíso
    Um sossego persiste
    Mesmo ao cair da tarde
    Quando o mundo parece
    Desaguar no Chiado
    Ao fundo do olhar
    No fim do corredor
    O Tejo canta a glória
    De bêbado de sol
    E nós neste café
    Penumbra de perdão
    Sentimos mais a força
    Da sua luz que brilha
    Em toda a direcção.

    27.9.61


    CAFÉ

    Bebida forte apaixonada
    Hierática violenta
    Traz-nos o estímulo da treva
    Que a luz sustenta

    Traz-nos a noite ao paladar
    Onde as estrelas brilham mais
    É um aperto de mão viril
    Que nos desperta para as coisas reais

    Vila Cabral, 23.2.63

    O poema de Alberto de Lacerda sobre a Brasileira é de 1961. Hoje é pena que o café que se lá bebe (eu já não bebo) seja uma purga das maiores. E que tenha uns empregados de que é melhor nem falar... Não me parece que o poeta hoje lá sentisse «harmonia», «bem-estar», «fraternidade pura». Bem pelo contrário.
    M.

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  2. Esqueci-me de filiar os poemas: Oferenda I. Lisboa: Imp. Nac.-Casa da Moeda, imp. 1984
    M.

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  3. Quando não sabemos nada...

    FALEMOS DE MIOSÓTIS

    Visto que Você não quer que as coisas continuem
    Assim
    Nesse caso
    Falemos de miosótis
    Flor sobre a qual não sabemos
    Nada

    In Público, 27.08.2007

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