sábado, 11 de outubro de 2008

O charme do mundo

Les êtres singuliers et leurs actes asociaux sont le charme d' un monde pluriel qui les expulse.

- Jean Cocteau, Les enfants terribles

Isto vem mais ou menos a propósito de uma figura singular da Lisboa nocturna. Durante anos, via-o quando passava em Picoas à noite, ele junto ao Imaviz a acenar a quem passava, sempre com um sorriso nos lábios e elegantemente vestido. A certa altura, tornou-se quase uma celebridade, com direito a entrevista televisiva onde falou da solidão em que vive, do desinteresse dos familiares. Hoje de madrugada, ao voltar da boémia, inesperadamente deparo-me com ele no Saldanha, perto do Galeto, a acenar e a sorrir e, previdentemente, com um chapéu de chuva.
Definitivamente un être singulier. E concordo com Cocteau- os seres singulares, os excêntricos, são realmente o charme do mundo. E retrato da fabulosa diversidade humana.

10 comentários:

  1. Não é Lisboa, é Paris:
    http://www.youtube.com/watch?v=nZvehG_Lgls&feature=related

    LA BOHÈME

    Je vous parle d'un temps
    Que les moins de vingt ans
    Ne peuvent pas connaître
    Montmartre en ce temps-là
    Accrochait ses lilas
    Jusque sous nos fenêtres
    Et si l'humble garni
    Qui nous servait de nid
    Ne payait pas de mine
    C'est là qu'on s'est connu
    Moi qui criait famine
    Et toi qui posais nue

    La bohème, la bohème
    Ça voulait dire on est heureux
    La bohème, la bohème
    Nous ne mangions qu'un jour sur deux

    Dans les cafés voisins
    Nous étions quelques-uns
    Qui attendions la gloire
    Et bien que miséreux
    Avec le ventre creux
    Nous ne cessions d'y croire
    Et quand quelque bistro
    Contre un bon repas chaud
    Nous prenait une toile
    Nous récitions des vers
    Groupés autour du poêle
    En oubliant l'hiver

    La bohème, la bohème
    Ça voulait dire tu es jolie
    La bohème, la bohème
    Et nous avions tous du génie

    Souvent il m'arrivait
    Devant mon chevalet
    De passer des nuits blanches
    Retouchant le dessin
    De la ligne d'un sein
    Du galbe d'une hanche
    Et ce n'est qu'au matin
    Qu'on s'asseyait enfin
    Devant un café-crème
    Epuisés mais ravis
    Fallait-il que l'on s'aime
    Et qu'on aime la vie

    La bohème, la bohème
    Ça voulait dire on a vingt ans
    La bohème, la bohème
    Et nous vivions de l'air du temps

    Quand au hasard des jours
    Je m'en vais faire un tour
    A mon ancienne adresse
    Je ne reconnais plus
    Ni les murs, ni les rues
    Qui ont vu ma jeunesse
    En haut d'un escalier
    Je cherche l'atelier
    Dont plus rien ne subsiste
    Dans son nouveau décor
    Montmartre semble triste
    Et les lilas sont morts

    La bohème, la bohème
    On était jeunes, on était fous
    La bohème, la bohème
    Ça ne veut plus rien dire du tout

    Letra: Jacques Plante; música: Charles Aznavour

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  2. http://br.youtube.com/watch?v=1tmJS-xyq7U

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  3. " ...os seres singulares, os excêntricos, são realmente o charme do mundo."

    Adorei esta frase! Ela bate bem com os surrealistas... gosto de seres singulares, iluminam o dia. Acho que estou farta do nosso país! Há pouca singularidade por aí...

    Obrigada, Luís Barata.
    Também, gostei de recordar "La Bohème".

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  4. Jean Cocteau sabia do que falava... e falava do que sabia. Obrigado Luís.

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  5. Conhecia superficialmente o Jean Cocteau, apenas a sua ligação aos artistas: Pablo Picasso, Modigliani e Apollinaire.
    Disseram-me que vi filmes dele mas a memória não me traz grande luz.
    Como poeta fui agora pesquisar e descobri que Herberto Helder o traduziu. Deixo aqui uma tradução de H Helder para homenagear os dois:

    VIII

    Com pés de animal azul celeste,
    Chegou o anjo Heurtebise. Estou só
    Todo nu sem Eva, sem bigode
    Sem mapa.
    As abelhas de Salomão
    Debandam, porque me é difícil comer o mel
    De tomilho amargo, o meu mel dos Andes.
    Em baixo, esta manhã o mar copia
    Cem vezes o verbo amar. Anjos de algodão
    Sujos, indecentes
    Mungem na erva os úberes das grandes
    Vacas geográficas.

    Jean Cocteau
    o anjo heurtebise
    ouolof
    poemas mudados para português
    por Herberto Helder
    assírio & alvim
    1997.

    Desculpe tanto comentário e intervenções. Agradeço a todos os autores do Prosimetron pelos ensinamentos e pistas que dão. Parabéns.

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  6. Jean Cocteau e Jacques Prévert foram os poetas que mais li na minha juventude.
    Espreitem:
    http://www.jeancocteau.net/
    M.

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  7. SURPRESAS DO TRIBUNAL DE DEUS
    Uma garota rouba cerejas. Toda a sua longa vida passa-a a resgatar essa falta, por intermédios de orações. A devota morre. DEUS: 'Serás eleita por teres roubado cerejas.'

    *

    Tudo em que não se acredita é decorativo.

    JEAN COCTEAU
    In: Ópio: diário de uma desintoxicação / trad. de Mria Teresa Horta. Lisboa: Ulisseia, 1966, p. 49, 52

    Custou-me 30$00 em 1966 (0,15€ era dinheiro). Transcrevi dois dos fragmentos (de que é composto o livro) que sublinhei na época.
    M.

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  8. Luís,
    Anda a ler 'Les enfants terribles'? Veja o que Cocteau diz:

    «LES ENFANTS TERRIBLES foram escritos sob a obsessão de 'Make Believe' (SHOW BOAT); os que gostam deste livro devem comprar este disco e relê-lo ouvindo-o.»
    JEAN COCTEAU
    In: Ópio: diário de uma desintoxicação / trad. de Mria Teresa Horta. Lisboa: Ulisseia, 1966, p. 111

    E a canção aqui está:
    http://www.youtube.com/watch?v=RWDqUkv7tG8

    Não me lembro de ter visto este filme. Espero que passe brevemente na Cinemateca.
    M.

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  9. Minha cara M e Anónimos, obrigado pelas referências, realmente a Net é inesgotável.
    Quanto ao filme, já existe em dvd. Creio até tê-lo visto na FNAC, passe a publicidade.

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  10. Luís,
    Afinal já sei que filme é, vi-o, mas não me lembro quase nada dele.
    Obrig.,
    M.

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