quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Pedro Homem de Melo : O rapaz da camisola verde

De mãos nos bolso e de olhar distante,
Jeito de marinheiro ou de soldado,
Era um rapaz de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.

Perguntei-lhe quem era e ele me disse
“Sou do monte, Senhor, e um seu criado”.
Pobre rapaz de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.

Porque me assaltam turvos pensamentos?
Na minha frente estava um condenado.
Vai-te, rapaz da camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.

Ouvindo-me, quedou-se o bravo moço,
Indiferente à raiva do meu brado,
E ali ficou de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.

Soube depois ali que se perdera
Esse que só eu pudera ter salvado.
Ai do rapaz da camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.
Ai do rapaz da camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.

Poema: Pedro Homem de Mello


Musica: Frei Hermano da Câmara

12 comentários:

  1. O Frei Hermano da Câmara não é «my cup of tea». Já sabe, quando tomarmos chá, pode ser Rooibos (muito bom o da Rotbuschtee, passe a publicidade), acompanhado por um cha cha cha, como alguém aqui sugeriu...
    E de conventual, só doces...
    Também gosto de música sacra, mas mais do «estilo» Mozart.

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  2. Eu coloquei foi o poema de Pedro Homem de Melo. O resto veio por acréscimo...

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  3. Cara miss Tolstoi: Também nunca sei quando será a sua "cup of tea" (parece mais uma inglesa do que uma russa... será?). Até agora é só conversa... é só blá... blá... vamos a ver se algum dia tem coragem... lá bom corpo (do pescoço para baixo) parece ter(segundo a foto).

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  4. O poema é lindo!
    Quanto ao fado, gosto mais das vozes de Vicente da Câmara e de Nuno da Câmara Pereira.

    Valorizo Frei Hermano da Câmara porque tornou-se beneditino e canta para promover a paz. Admiro quem tem vocação e crê porque gostava de crer.

    Aprecio música sacra mas não é comparável.

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  5. Então, e a carinha não é laroca?
    O corpinho (da foto) é da Audrey Hepburn. Unfortunatly...

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  6. Esqueci-me de dizer que gosto da poesia do Pedro Homem de Melo. E também gosto da Amália a cantá-lo.

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  7. Carinha laroca? Um miminho do Toni Carreira:

    CARINHA LAROCA

    Vou deixar-te louca,
    Carinha laroca, carinha laroca
    Com água na boca,
    Carinha laroca, carinha laroca
    Vais-me dar em troca,
    Carinha laroca, carinha laroca
    Um beijo na boca,
    Carinha laroca, carinha laroca

    Eu perco o juízo com o teu sorriso,
    Com o teu sorriso
    Fico a desmaiar, com o teu olhar,
    Com o teu olhar
    Cara de anjo, só de mim não tens dó,
    De mim não tens dó
    Mas se um dia te entregas, já não me dás regras,
    Já não me dás regras

    (Refrão)

    Pára de fugir, não vais resistir,
    Não vais resistir
    Entrega-te lá, não sejas tão má,
    Não sejas tão má
    Cara de anjo, só de mim não tens dó,
    De mim não tens dó
    Mas se um dia te entregas, já não me dás regras,
    Já não me dás regras

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  8. «DEIXA-ME RIR», às gargalhadas, diria o Jorge Palma.
    Para ver em:
    http://www.youtube.com/watch?v=X0PHQ7tzzBs

    DEIXA-ME RIR

    Deixa-me rir
    Essa história não é tua
    Falas da festa, do Sol e do prazer
    Mas nunca aceitaste o convite
    Tens medo de te dar
    E não é teu o que queres vender
    Deixa-me rir
    Tu nunca lambeste uma lágrima
    Desconheces os cambiantes do seu sabor
    Nunca seguiste a sua pista
    Do regaço à nascente
    Não me venhas falar de amor
    Pois é , pois é
    Há quem viva escondido a vida inteira
    Domingo sabe de cor
    O que vai dizer Segunda-Feira
    Deixa-me rir
    Tu nunca auscultaste esse engenho
    De que que falas com tanto apreço
    Esse curioso alambique
    Onde são destilados
    Noite e dia o choro e o riso
    Deixa-me rir
    Ou então deixa-me entrar em ti
    Ser o teu mestre só por um instante
    Iluminar o teu refúgio
    Aquecer-te essas mãos
    Rasgar-te a máscara sufocante
    Pois é, pois é
    Há quem viva escondido a vida inteira
    Domingo sabe de cor
    O que vai dizer Segunda-Feira

    M.

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  9. Gosto da boa disposição que reina por este blogue, que está cada vez mais animado.
    Imaginemos o Toni Carreira a cantar a “Carinha Laroca” a olhar para a fotografia inspiradora de Miss Tolstoi…
    Laurinda

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  10. Está visto que o Frei Hermano da Câmara atrai muitos comentários, será que passará a ser o patrono deste blogue?
    Cruzes canhoto!
    P.S. Perdoem-me a blasfémia, acho que fui contagiado pelos comentadores que antecedem.

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  11. “Na versão cantada, o poema que Pedro Homem de Mello escreveu em 1954 vê os versos em que o homoerotismo é cristalinamente assumido serem silenciados pela censura do pudor hipócrita da cultura social vigente.


    “O rapaz da camisola verde” - versão integral


    “Lembro o seu vulto, esguio como espectro,

    Naquela esquina, pálido encostado!

    - Era um rapaz de camisola verde,

    Negra madeixa ao vento,

    Boina maruja ao lado...


    De mãos nos bolsos e de olhar distante

    Jeito de marinheiro ou de soldado...

    Era o rapaz de camisola verde,

    Negra madeixa ao vento,

    Boina maruja ao lado.


    Quem o visse, ao passar, talvez não desse

    Pelo seu ar de príncipe, exilado

    Na esquina, alí, de camisa verde,

    Negra madeixa ao vento,

    Boina maruja ao lado.


    Perguntei quem era, ele me disse:

    Sou do Monte Senhor! E seu criado...

    Pobre rapaz de camisola verde

    Negra madeixa ao vento,

    Boina maruja ao lado!


    Porque me assaltam turvos pensamentos?

    Na minha frente estava um condenado?

    - Vai-te! Rapaz de camisola verde,

    Negra madeixa ao vento,

    Boina maruja ao lado!


    Ouvindo-me, quedou-se, altivo, o moço,

    Indiferente à raiva do meu brado,

    E ali ficou de camisola verde,

    Negra madeixa ao vento,

    Boina maruja ao lado...



    Ali ficou... E eu cínico, deixei-o

    Entregue à noite, aos homens, ao pecado...

    Ali ficou de camisola verde,

    Negra madeixa ao vento,

    Boina maruja ao lado...


    Soube depois, ali, que se perdera

    Esse que, eu só, pudera ter salvado!

    Ai! do rapaz de camisola verde,

    Negra madeixa ao vento,

    Boina maruja ao lado!


    PEDRO HOMEM DE MELLO

    (São José Almeida, Homossexuais no Estado Novo, Sextante Editora, Porto, 2010)



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