quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Filipa Leal

Um amigo falou-me desta poetisa com grande entusiasmo. Ando a ler Talvez os lírios compreendam (2004) e estou a adorar.

por dentro dos cafés. E são cadeiras, e são sentadas e
simples: mesmo que não nos sentemos nelas. A mim
perturba-me ainda o dia em que parti. Divago sobre a dor
como se também eu me sentasse - calmamente. Recordo o
desespero como se rezasse. Descrente. Rezando como se
recitasse no entardecer onde não estive. Talvez seja esta a
única ausência destes anos. É este o momento em que não
parto. Mas sou longe. Tenho escadarias nos sentidos,
caminhos despovoados junto aos ossos, e janelas, janelas de
espelhos na memória violenta.

Filipa Leal

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