segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Poesia e prosa de Natal - 1

Mais um desafio a Filipe Vieira Nicolau, Jad, João Mattos e Silva, João Soares, Luís Barata e MLV, desta vez para colocarmos literatura sobre o Natal.
Eu começo com um poema de David Mourão-Ferreira.

ELEGIA DE NATAL

Era também de noite Era também Dezembro
Vieram dizer-me que o meu irmão nascera
Já não sei afinal se o recordo ou se penso
que estou a recordá-lo à força de o dizerem

Mas o teu berço foi o primeiro presépio
em que pouco depois o meu olhar pousava
Não era mais real do que existirem prédios
nem menos irreal do que haver madrugadas

Dezembro retornava e nunca soube ao certo
se o intruso era eu se o intrus eras tu
Quase aceitava até que alguém te supusesse
mais do que meu irmão um gémeo de Jesus

Para ti se encenava o palco da surpresa
Entravas no papel de que eu ia descrendo
Mas sabia-me bem salvar a tua crença
E era sempre de noite Era sempre em Dezembro

Entretanto em que mês em que dia é que estamos
Que verdete corrói prédios e madrugadas
De que muro retiro o musgo desses anos
que entre os dedos depois se me desfaz em água

Para onde levaste a criança que foste
Em vez da tua voz que ciprestes são estes
Como dizer Natal se te não vejo hoje
Como dizer Natal agora que morreste

David Mourão-Ferreira

3 comentários:

  1. Este poema que David fez aquando da morte do irmão é lindo.

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  2. Lindo mesmo!
    Li-o ha uns tempos mas ja nao me lembrava da sua beleza.

    Espero que nao se importem com a falta de assentos.
    Parabens pela ideia de explorar o tema de Natal.

    Aqui em Panjim, tambem e Natal por influencia crista veem-se decoracoes por todo o lado.
    A.R.

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  3. Para que uma rosa chegue a David Mourao-Ferreira e a si que colocou o belo poema:

    "Ah! Se acontecesse enfim qualquer coisa!

    Se de repente saísse da terra um braço
    e atirasse uma rosa
    para o espaço!

    Mas não.

    Lá está o sol do costume
    com a exactidão
    duma bola de lume
    desenhada a compasso...

    ...sol que à noite continua
    a andar em redor
    nas entranhas da lua
    - que é sol com bolor...

    e desde que nasci,
    haja paz ou guerra,
    nunca vi outra coisa.

    Ah! Como queres que acredite em ti
    - braço que hás-de romper a terra
    e atirar uma rosa?

    Jose Gomes Ferreira
    (Enviaram-me sem dizer a que obra pertencia).
    Uma Rosa cor-de-rosa.
    A.R.

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