sábado, 17 de maio de 2008

"OS BUDDENBROOK" DE THOMAS MANN E A CIDADE DE LÜBECK



Em 1932, Thomas Mann foi convidado pela emissora alemã Westdeutscher Rundfunk para o programa "Autobiographische Plaudereien" (conversas autobiográficas). Como tema, escolheu Os Buddenbrook e confidenciou aos ouvintes o seguinte: "Os Buddenbrook são a expressão mais directa de todo o meu ser que é marcado pela minha terra e pelas minhas origens e que, neste livro, se torna evidente de uma forma mais intensa do que as minhas obras posteriores foram capazes de o manifestar".

Nesta emissão, Mann recorda a época em que escrevera o livro (1897 - 1900 em Palestrina/Roma e Munique), as influências que destinaram a sua vida e as influências que destinaram esta obra, destacando Richard Wagner cujo Tristão e Anel do Nibelungo decoram, em excertos transcritos para piano, este registo sonoro. Uma gravação histórica e única para todos os admiradores de Thomas Mann e Richard Wagner!

Mas voltemos aos Buddenbrook. O romance foi lançado, no seu primeiro volume, a 26 de Fevereiro de 1901 pela editora Fischer-Verlag. Uma das maiores obras de toda a literatura alemã do século passado, conquistou o Prémio Nobel em 1929. Através dela, Mann tornou-se conhecido do público internacional. Na Alemanha, Thomas Mann associa-se, em primeiro lugar, aos Buddenbrook - As confissões de Felix Krull, Morte em Veneza, A Montanha Mágica ou O Eleito, ainda que célebres, carecem da mesma popularidade.

O livro foi alvo de muita atenção e de um enorme interesse na cidade natal de Mann, Lübeck (Lubeque), pois decorre aí praticamente toda a acção excepto algumas passagens por Hamburgo e Munique. Logo após o lançamento, circulavam listas de nomes ilustres para "decifrar" quem dos habitantes correspondia aos personagens do livro. Rapidamente concluiu-se que a família fictícia de nome Buddenbrook tinha por base a família Mann: o patriarca Johann Buddenbrook assemelhava-se ao avô do autor, o pai, tios e até o próprio Thomas Mann (no personagem de Justus Buddenbrook) eram retratados nesta saga.

A curiosidade dos conterrâneos de Mann era também despertada pelo subtítulo Os Buddenbrook - decadência de uma família. Ao fim de quatro gerações que se situam entre 1835 e 1877, é manifesto o declínio dos Buddenbrook: uma família da alta burguesia hanseática, de vivência aparentemente exemplar, ignora as mudanças do tempo, as gerações mais novas abandonam o comércio tradicional dos antepassados e dedicam-se aos mais diferentes ramos tidos por pouco convencionais. O último representante dos Buddenbrook, o jovem Justus Buddenbrook (Hanno), vive num mundo ilusionista, o seu fascínio pela música clássica é rejeitado pelo pai. Hanno morre aos 16 anos. Com o seu desaparecimento extingue-se uma família cuja árvore genealógica remonta até ao século XVI.

O declínio é acompanhado da perda de costumes, tradições e sobretudo de valores morais. Antonie Buddenbrook (Tony) casa-se e divorcia-se por diversas vezes, algo de escandaloso à vista dos padrões da época. Outros membros da família falham na vida profissional, empenham-se em negócios ruinosos, acabando em prisão.

O relato franco do declínio chocou a aristocracia e burguesia de Lübeck que se consideravam detentores de princípios cristãos e morais. A indignação chegou ao extremo de um tio (Friedrich) de Thomas Mann se distanciar do sobrinho publicamente num jornal local.

Lübeck guardou este rancor durante muitas décadas. A 20 de Maio de 1955, poucos meses antes do seu falecimento, Mann foi condecorado com o título de cidadão honorário. Contudo, a decisão a favor desta honra foi tomada apenas com um voto de maioria no respectivo grémio municipal .

Hoje em dia, a relação de Lübeck com o seu ilustre filho é naturalmente pacífica. Em 1975, por ocasião do centenário do nascimento do autor, foi colocada uma lápide na rua Beckergrube nº. 38, casa em que Thomas Mann nasceu.
A casa Buddenbrookhaus, propriedade da família Mann até 1914, é hoje um museu dedicado a Thomas Mann e seu irmão Heinrich. Entre vários pontos de interesse, refira-se a exposição permanente sobre a criação dos Buddenbrook.

FANTASIAS IBERISTAS E REALIDADES ATLÂNTICAS

Este é o título de um texto muito interessante de Nuno Castelo-Branco, publicado no blogue ESTADO SENTIDO - um dos que leio religiosamente.

UMA QUESTÃO DE ESCALA

" Also, philosophically speaking, it is important to have a sense of scale. On September 11, about 3000 people died. A terrible tragedy. Each day about 1000 die in the USA from smoking, and since the terrorist attacks about 100.000 americans have been murdered. There are appropriate responses, but neither «war on smoking» or «war on murder» names them. "


- John Searle, the philosopher's magazine , issue 40, 1st quarter 2008

BALLET : TRÊS GERAÇÔES






A Escola Russa produziu os três maiores bailarinos do século XX : Nijinsky, Nureiyev e Baryshnikov


sexta-feira, 16 de maio de 2008

O TRABALHO DE SI

" Pour garder sauf l' entrain qui nous anime, il convient de tirer du quotidien et des mauvais jours quelque fécond outil adapté à l' échec. Cette quête fait de l' homme un apprenti emprunté , placé devant une vertigineuse et obscure obligation : faire de sa vie une oeuvre , forger une personnalité digne d' assumer pleinement la totalité de l'existence."

- Alexandre Jollien , Le métier d' homme , Seuil , 2002 , p. 39 .

DE NATÁLIA PARA FLORBELA



No túmulo de Florbela


Infanta de ossos. No mármore que os veste

corre indiferentemente um aranhiço.

E tu que a um sopro de ar estremecias

agora no país das lages frias,

soberba e mítica nem mesmo dás por isso .


- Natália Correia , Antologia Poética , org. Fernando Pinto do Amaral, Dom Quixote.

GOYA


" Goya em tempo de guerra" - Museu do Prado, Madrid, até 13 de Julho.

CEM ANOS DE FILOSOFIA - UMA VISÃO

( Meditação do filósofo, Rembrandt )



" If the philosophy published between 1907 and 1967 were to vanish without trace, it would be an intellectual catastrophe. If the philosophy published between 1967 and 1997 were to vanish without trace , it would be a very serious loss. If the philosophy published between 1997 and 2007 were to vanish similarly, it would matter a little, but not that much. "

- Alasdair MacIntyre , The philosophers ' magazine , issue 40 , 1st quarter 2008 .

quinta-feira, 15 de maio de 2008

ANGELUS SILESIUS

A necessária humildade

Dá atenção a tudo o que está abaixo de ti .
[ Se foges do relâmpago do tempo,
Como queres contemplar um relâmpago da
[ eternidade ?


Volta dentr' os teus raios

Ah ! Se a minha alma recolhesse as suas chamas,
Com o relâmpago se tornaria relâmpago e um só .


- Angelus Silesius , A rosa é sem porquê , trad. port. José Augusto Mourão , Vega , 1991 .

DIETRICH BONHOEFFER - ÉTICA CRISTÃ

Dietrich Bonhoeffer ( 1906-1945 ) , estudou Teologia em Tubingen e Berlim, obtendo o doutoramento aos vinte e um anos com uma tese sobre A Comunhão dos Santos . Em 1931 tornou-se professor de Teologia na Universidade de Berlim, sendo ordenado ministro da Igreja luterana. Logo desde 1933 foi visto pelo Regime Nazi como um inimigo, e em 1936 foi proibido de ensinar em Berlim e a Gestapo encerrou o seminário de Finkenwalde onde Bonhoeffer reflectia sobre a "questão judaica". Em 1940 começou a escrever Ética , a sua obra mais conhecida. Viaja por Inglaterra, Noruega, Suécia e Suiça no ano de 1942 mas recusa exilar-se como o aconselham os amigos e familiares. Regressado à Alemanha é preso e enviado para o campo de concentração de Buchenwald, tendo sido posteriormente transferido para os de Regensburg, Schonberg e Flossenburg onde será condenado à morte e executado no dia 9 de Abril de 1945 .

" Agir politicamente significa assumir responsabilidades - o que não é possível fazer sem poder. O poder põe-se ao serviço da responsabilidade " ( pág. 21o )

" Enquanto o ético estabelece apenas os limites, define só o formal, o negativo e é, portanto, possível como tema só e sempre no limite, de modo formal e negativo, o mandamento de Deus ocupa-se do conteúdo positivo e da liberdade do homem de aprovar este conteúdo positivo." ( pág.340 )

- Dietrich Bonhoeffer, ÉTICA , Assírio&Alvim .

quarta-feira, 14 de maio de 2008

DIOGO PIRES AURÉLIO - AGREGAÇÃO

Começam hoje e terminam amanhã as provas de agregação em Filosofia ( Filosofia Social e Política ) de Diogo Pires Aurélio na Universidade Nova de Lisboa.

ISRAEL

Há precisamente 60 anos nasceu o Estado de Israel. O povo judeu terminava a sua milenar diáspora regressando à Terra Prometida.

FERNANDO PESSOA

O Bureau Internacional das Capitais de Cultura revelou esta semana que Fernando Pessoa foi eleito uma das 50 personalidades que mais influenciaram a cultura europeia. O resultado foi obtido através de uma votação realizada em universidades de vários países europeus.

1643 - LUÍS XIII

No dia 14 de Maio de 1643 faleceu Luís XIII, Rei de França durante 33 anos. No plano político, como é sabido, viveu subjugado pelo génio do seu Primeiro- Ministro , o Cardeal de Richelieu a quem cabem as glórias deste reinado. No plano pessoal, Luís XIII era considerado, mesmo pelos seus próximos, como um homem avarento, cruel e fútil, a que acrescia o defeito comum a todos os Bourbon - a ingratidão.
Não é um julgamento duro, basta ponderar o destino de sua mãe, Maria de Médicis, que deixou morrer desterrada e na miséria; ou a trágica morte de Cinq-Mars.
Teve no entanto o bom-gosto de se fazer retratar por Philippe de Champaigne como se vê supra .

QUATRO RAINHAS, QUATRO IRMÃS - ADENDA

Poucas horas depois de ter publicado sobre o livro de Nancy Goldstone , fui informado por um leitor a par das novidades editoriais que já há uma edição portuguesa de Four Queens publicada pela Bertrand ainda no passado mês de Abril.
Moral da história : o que é bom depressa é traduzido, pelo menos quase sempre.

terça-feira, 13 de maio de 2008

( UMA ) TEORIA DO ROMANCE


" Le roman est un des grands pourvoyeurs de sens dans un monde désenchanté : il est né au XVI et surtout au XVIII siècles, au moment où les certitudes religieuses ont été ébranlées. Il ne replace pas la Bible ou le Coran, mais par sa multiplicité même, il permet à une autre éthique de naître, beaucoup mieux adaptée au monde moderne. Il préserve (...) l' « archétexte » de l'humanité, cette relation dichotomique à l'autre: nous sommes dans dans le bien, tandis qu' eux sont dans l' horreur et le mal et nous menacent. Le roman nous aide à comprendre les autres de l' intérieur, y compris ceux qui ne sont pas comme nous , ne parlent pas la même langue, ne vivent pas dans le même univers culturel. C'est une éthique de la nuance, contre le noir et le blanc - une éthique des couleurs. "

- Nancy Huston, Le Magazine Littéraire , Maio de 2008.

SHIP- CEM ANOS DE LOUÇA EM ALCOBAÇA

Cem anos de louça em Alcobaça é o tema da conversa de fim de tarde (17.30 ) desta quinta-feira, dia 15 de Maio , no Palácio da Independência.
Os oradores são Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, autores de um livro recentemente lançado sobre o tema.

LOCAL: Palácio da Independência, Largo de S. Domingos, 11 , Lisboa.

QUATRO RAINHAS, QUATRO IRMÃS

FOUR QUEENS,The provençal sisters who ruled Europe - de Nancy Goldstone, e publicado pela Penguin Books, é uma biografia colectiva que trata das vidas das quatro filhas dos Condes da Provença Raimundo Berenguer V e Beatriz de Sabóia , que pelo casamento foram rainhas na Europa: - Margarida ( casou com Luís IX de França ) , Leonor ( Rainha de Inglaterra pelo seu casamento com Henrique III ) , Sancha ( casada com Ricardo da Cornualha, Rei dos Romanos ) e Beatriz ( mulher de Carlos de Anjou, Rei da Sicília ) .
Não estamos, no entanto, perante um mero trabalho biográfico mas sim defronte de um verdadeiro fresco da história europeia do séc. XIII- as Cruzadas, as lutas entre o Papado e o Império, a cultura trovadoresca.
É de leitura compulsiva.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

HELMUT BERGER, ACTOR DE LENDA E PAIXÃO



Certamente sugestionado pelo post do Filipe Nicolau sobre Karlheinz Böhm, que foi na tela o Imperador Francisco José da Áustria, contracenando com Romy Schneider como a Imperatriz Elisabeth, Sissi, dei por mim a rever Ludwig, em que a actriz desempenha o mesmo papel, agora recordando a amizade por outra personagem histórica com quem partilhou afectos e afinidades de rebeldia e extravagância, interpretada brilhantemente por Helmut Berger. E depois a ver “Grupo de Famiglia in un interno” (“Violência e Paixão”) onde o actor é Konrad, um gigolô.

Helmut Berger, nascido em 29 de Maio de 1944, há sessenta e quatro anos, foi um descoberta aos vinte anos – como actor e como, mais tarde, seu amante - de Luchino Visconti e intérprete nos seus filmes “The Witches”(1967), “The Damned” (1969), “Ludwig” (1972) e “Conversation Piece”(1974), tendo ainda trabalhado com outros realizadores como Vittorio de Sica e Sérgio Gobbi. Abalado psicologicamente pela morte do realizador, em 1976, Berger tentou suicidar-se no primeiro aniversário da sua morte, já a enfrentar problemas de álcool e drogas, de que conseguiu libertar-se anos mais tarde.

O actor considerava que a sua vida estava dividida entre os 12 anos que durou a sua relação com Visconti, (tinha apenas 32 anos quando o realizador morreu e passou a considerar-se seu “viúvo”) com o qual o “ rapaz trémulo perante as câmaras” tudo aprendeu e os anos seguintes onde participou em inúmeras películas, entre outras no “Padrinho”, parte III, de Coppola, em 1990 e num episódio da série televisiva “Dinastia”. Dos primeiros anos é de referir ainda “Retrato de Dorian Grey”, de Máximo Dallamano, de 1970.

De uma beleza ao mesmo tempo enigmática, ambígua e provocadora, de olhar penetrante, Berger foi um ícone para homens e mulheres, amante de Visconti, Bianca e Mick Jagger e Marisa Berenson,com quem teve uma relação profunda e séria.
Em 1973 recebeu o Óscar europeu “David de Donatello” por “Ludwig” e em 2007 o Urso Especial do Festival de Cinema de Berlim pela sua carreira.

OS PRIMEIROS HOMENS


Aqueles distantes antepassados, que tantas vezes recusamos encarar como tais com as suas rudes feições e pequenos cérebros, a partir de certo momento ( 50.000 anos ? ) começaram a enterrar os seus mortos. Não será este o nascimento da humanidade quando começa a ser dada sepultura ao semelhante , e não mais os cadáveres são deixados expostos aos elementos e aos animais necrófagos ?

MANIFESTO




Porque dos mortos vem a voz que chama;


porque dos tempos surge um corpo exangue


porque do mundo rasga o ventre a vida;


porque dos filhos um olhar acusa


a paz se exige aqui e hoje e sempre


que as nossas mãos estão brancas e recusam


tingir-se de outra cor que não de anil.






- João Mattos e Silva, Memória(s) , Átrio, 1987.






Dedicado a todos os ex-combatentes na Guerra do Ultramar, em especial aos meus tios António e José.


O IMPERATIVO CATEGÓRICO

" Age de tal forma que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na de qualquer outro, sempre simultaneamente como um fim, e nunca simplesmente como um meio. "

- Immanuel Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes , 1785 .

Portugal: O PAÍS QUE NÃO MERECE SER DESENVOLVIDO

O PAÍS QUE NÃO MERECE SER DESENVOLVIDO


João César das Neves – Economista

PORTUGAL FEZ TUDO ERRADO, MAS CORREU TUDO BEM.

Esta é a conclusão de um relatório internacional recente sobre o desenvolvimento português.

Havia até agora no mundo, países desenvolvido, subdesenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Mas acabou de ser criada uma nova categoria: os países que não deveriam ser desenvolvidos. Trata-se de regiões que fizeram tudo o que podiam para estragar o seu processo de desenvolvimento e... falharam.

Hoje são países industrializados e modernos, mas por engano. Segundo a fundação europeia que criou esta nova classificação, no estudo a que o DN teve acesso, este grupo de países especiais é muito pequeno. Alias, tem mesmo um só elemento: Portugal.

A Fundação Richard Zwentzerg (FRZ), iniciou há uns meses um grande trabalho sobre a estratégia económica de longo prazo. Tomando a evolução global da segunda metade do século XX, os cientistas da FRZ procuraram isolar as razões que motivavam os grandes falhanços no progresso. O estudo, naturalmente, pensava centrar-se nos países em decadência. Mas, para grande surpresa dos investigadores, os mais altos índices de aselhice económica foram detectados em Portugal, um dos países que tinha também uma das mais elevadas dinâmicas de progresso.

Desconcertados, acabam de publicar, à margem da cimeira de Lisboa, os seus resultados num pequeno relatório bem eloquente, intitulado: 'O País Que Não Devia Ser Desenvolvido'

O Sucesso Inesperado dos Incríveis Erros Económicos Portugueses.

Num primeiro capítulo, o relatório documenta o notável comportamento da economia portuguesa no último meio século. De 1950 a 2000, o nosso produto aumentou quase

nove vezes, com uma taxa de crescimento anual sustentada de 4,5 por cento durante os longos 50 anos. Esse crescimento aproximou-nos decisivamente do nível dos países ricos. Em 1950, o produto de Portugal tinha uma posição a cerca de 35 por cento do valor médio das regiões desenvolvidas.

Hoje ultrapassa o dobro desse nível, estando acima dos 70 por cento, apesar do forte crescimento que essas economias também registaram no período. Na generalidade dos outros indicadores de bem-estar, a evolução portuguesa foi também notável.

Temos mais médicos por habitante que muitos países ricos. A mortalidade infantil caiu de quase 90 por mil, em 1960, para menos de sete por mil agora. A taxa de analfabetismo reduziu-se de 40 por cento em 1950 para dez por cento.

Actualmente a esperança de vida ao nascer dos portugueses aumentou 18 anos no mesmo período. O relatório refere que esta evolução é uma das mais impressionantes, sustentadas e sólidas do século XX. Ela só foi ultrapassada por um punhado de países que, para mais, estão agora alguns deles em graves dificuldades no Extremo Oriente. Portugal, pelo contrário, é membro activo e empenhado da União Europeia, com grande estabilidade democrática e solidez institucional. Segundo a FRZ, o nosso país tem um dos processos de desenvolvimento mais bem sucedidos no mundo actual.

Mas, quando se olha para a estratégia económica portuguesa, tudo parece ser ao contrário do que deveria ser. Segundo a Fundação, Portugal, com as políticas e orientações que seguiu nas últimas décadas, deveria agora estar na miséria. O nosso país não pode ser desenvolvido. Quais são os factores que, segundo os especialistas, criam um desenvolvimento equilibrado e saudável? Um dos mais importantes é, sem dúvida, a educação.

Ora Portugal tem, segundo o relatório, um sistema educativo horrível e que tem piorado com o tempo. O nível de formação dos portugueses é ridículo quando comparado com qualquer outro país sério. As crianças portuguesas revelam níveis de conhecimentos semelhantes às de países miseráveis. Há falta gritante de quadros qualificados. É evidente que, com educação como esta, Portugal não pode ter tido o desenvolvimento que teve. Um outro elemento muito referido nas análises é a liberdade económica e a estabilidade institucional. Portugal tem, tradicionalmente, um dos sectores públicos mais paternalista, interventor e instável do mundo, segundo a FRZ. Desde o 'condicionamento industrial' salazarista às negociações com grupos económicos actuais, as empresas portuguesas vivem num clima de intensa discricionariedade, manipulação, burocracia e clientelismo. O sistema fiscal português é injusto, paralisante e está em crescimento explosivo. A regulamentação económica é arbitrária, omnipresente e bloqueante.

É óbvio que, com autoridades económicas deste calibre, diz o relatório, o crescimento português tinha de estar irremediavelmente condenado desde o início. O estudo da Fundação continua o rol de aselhices, deficiências e incapacidades da nossa economia. Da falta de sentido de mercado dos empresários e gestores à reduzida integração externa das empresas; da paralisia do sistema judicial à inoperância financeira; do sistema arcaico de distribuição à ausência de investigação em tecnologias. Em todos estes casos, e em muitos outros, a conclusão óbvia é sempre a mesma: Portugal não pode ser um país em forte desenvolvimento.

Os cientistas da Fundação não escondem a sua perplexidade.

Citando as próprias palavras do texto: 'Como conseguiu Portugal, no meio de tanta asneira, tolice e desperdício, um tal nível de desenvolvimento?'

A resposta, simples: é que ninguém sabe.

Há anos que os intelectuais portugueses têm dito que o País está a ir por mau caminho. E estão carregados de razão. Só que, todos os anos, o País cresce mais um bocadinho.

A única explicação adiantada pelo texto, mas que não é satisfatória, é a incrível capacidade de improvisação, engenho e 'desenrascanço' do povo português.

No meio de condições que, para qualquer outra sociedade, criariam o desastre, os portugueses conseguem desembrulhar-se de forma incrível e inexplicável.

O texto termina dizendo: 'O que este povo não faria se tivesse uma estratégia certa? '.


domingo, 11 de maio de 2008

"O LEITOR" DE BERNHARD SCHLINK


No rol das publicações recentes da editora suíça Diogenes, encontra-se o novo livro de Bernhard Schlink, Das Wochenende (O fim de semana). Neste romance, somos confrontados com um ex-terrorista da Rote Armee Fraktion (brigadas vermelhas alemãs) que, após vinte anos de prisão, encontra seus amigos durante um fim de semana.Teremos de esperar algum tempo pela tradução do livro para português.

Bernhard Schlink, nascido em Bielefeld (Alemanha) em 1944 e jurista de formação, tornou-se conhecido do público internacional em 1995 com o seu romance Der Vorleser (O leitor). O livro foi entretanto traduzido em quarenta idiomas, entre eles em português e editado pela ASA Editores em 1998. De leitura obrigatória em muitos liceus alemães juntamente com os clássicos de Goethe, Schiller ou Lessing, representa a obra literária alemã mais vendida das últimas décadas depois de O Perfume de Patrick Süskind. Os respectivos direitos para o cinema foram adquiridos por uma das grandes produtoras de Hollywood.

O protagonista Michael Berg tem quinze anos quando conhece Hanna Schmitz, uma mulher de 36 anos, bela, sensual e misteriosa. Estamos na Alemanha, na década de 50. Michael vive as primeiras experiências amorosas com Hanna até que esta, subitamente, desaparece da sua vida. Passados alguns anos, Michael, estudante de Direito, reencontra Hanna num processo de acusação a ex-guardas de campos de concentração. "Inicia-se então uma reflexão metódica e dolorosa sobre a legitimidade de uma geração, a braços com a vergonha" (ASA Editores, primeira edição de Dezembro de 1998). Pode e deve a geração dos anos 60 julgar a geração dos seus pais pelos crimes ocorridos entre 1933 - 45? O confronto político e social com os acontecimentos deste período começa na segunda metade dos anos 60 e é um dos motivos principais para as revoltas estudantis do Maio de '68 na Alemanha de que tanto se fala nestes dias.

O livro, por sua vez, segue esta reflexão de forma clara, acompanhada de uma sensibilidade extraordinária do autor, sem nunca correr risco de mistificar ou aligeirar os horrores cometidos.

Quanto ao filme: está a ser realizado por Stephen Daldry. Anthony Minghella participava neste projecto até ao seu falecimento recente. Os papéis principais estão a cargo de Ralph Fiennes e Kate Winslet que substitui Nicole Kidman (renunciou ao papel dada a sua gravidez). O jovem Michael será interpretado pelo promissor actor alemão David Kross.

SILÊNCIOS

A ti hei-de dizer por outras falas
o amor que silencio e que tu calas.


- João Mattos e Silva, Memória(s) , Átrio, 1987.

CASCATA


O sabor de hortelã em cada
beijo teu o cheiro a nardos
forte nos cabelos.Em meus braços
represas não sustenho
o romper em cascata dos desejos.
- João Mattos e Silva, Memória(s) , Átrio, 1987.

1904 - SALVADOR DALÍ



Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí y Domènech , mais conhecido como Salvador Dalí, nasceu em Figueres no dia 11 de Maio de 1904 e faleceu na mesma localidade a 23 de Janeiro de 1989.
Em 1919 teve a sua primeira exposição no Teatro Municipal de Figueres, na sua Catalunha natal. Dalí mudou-se para Madrid em 1922 para estudar na Academia de Artes de San Fernando, tornando-se também amigo de Federico Garcia Lorca e Luís Buñuel.
Em 1924 foi pela primeira vez a Paris, onde conheceu Picasso que juntamente com Miró foram as suas primeiras grandes influências.
Foi expulso da Academia de San Fernando em 1926 por ter declarado que ninguém era suficientemente competente para o avaliar.
Ao mesmo tempo que ia produzindo pintura de vanguarda, estudava e era influenciado por Raphael, Bronzino, Zurbáran, Vermeer e Velázquez.
Em1929 colaborou com Buñuel na curta-metragem Un chien andalou e conheceu a sua futura mulher Gala Éluard ( nascida Elena Diakonoff ) , então casada com o poeta Paul Éluard. Dalí junta-se ao grupo surrealista de Montparnasse e em 1934 casa com Gala, com quem vivia desde 1929.
Dalí e Gala mudam-se para os Estados Unidos em 1940, fugindo da guerra, e aí viveram durante oito anos, com grande sucesso artístico e económico.
Regressaram à Europa e, para surpresa de muitos, instalaram-se em Espanha onde viveram o resto das suas vidas. Em 1960, Dalí começou a trabalhar no Teatro- Museo Gala Salvador Dalí, na sua terra natal Figueres, cujos trabalhos se prolongaram até meados dos anos 80.
Após a morte de Gala, em 10 de Junho de 1982 , Dalí fica profundamente deprimido, recusando-se a comer, a que acrescia a doença de Parkinson de que sofria e que havia feito cessar a sua produção artística.
Acabou por melhorar, graças ao apoio de amigos e admiradores, vindo a falecer no dia 23 de Janeiro de 1989 vítima de pneumonia e falha cardíaca.
Está sepultado em campa rasa no átrio principal do Teatro-Museo Dalí em Figueres.