BALADA DE COPACABANA
Entramos num inferninho,
Copacabana era noite,
Violão cintura breve
Zângão de nylon soltou:
Mordia seio tão leve
Que ninguém mais reparou.
- Violão três moças tem
Primas de três moços tristes:
Sabes que não tenho mãe,
Por isso não me resistes...
Mas eu não quero compaixão,
Eu não te quero para mãe!
Te quero vodca brasileira,
Cana caiana,
Flor de Copacabana!
- Vamos de inferno em inferno
violando mar e lua.
É roxa a porta de entrada:
Acende-me o cabelo!
Anuncia-me nua!
- Copacabana tingida
Nos rebanhos da manhã
Dou-te a flauta de bambu
Para que brinques:
Canta de argola no pulso
Ao som dos drinques:
No vidro avulso!
Duas horas! Duas horas!
Duas horas da manhã!
Quatro cobras te desvestem,
Delas três te acharam sápida
como perninha de rã,
A outra te dio la gana
E em ti virou gargantilha:
Eva Copacabana,
Serpente de Droga Rápida
Te trata como uma filha.
Saiamos desta inferneira,
Que já alva é sangue ao mar
E à lua nova cornos nasceram.
Dizei -me devagarinho,
Mesas de pernas para o ar,
Quantos e quais se arrependeram?
Vitorino Nemésio
(1901 -1978)
Gosto muito de Vitorino Nemésio mas não conhecia este poema. Obrigada. Parece que o estou a ver sentado a declamá-lo.
ResponderEliminarA.R.
Vivamos Copabana! Se bem me lembro... Abraço, JPS
ResponderEliminarGosto da poesia do Nemésio, mas não dele a dizer poesia.
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