terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O carnaval, os intelectuais e a política no Brasil de oitocentos.

Di Cavalcanti, Pierrot, 1924
Os países de língua latina aproveitaram, desde sempre, a sátira política para revelar a imaginação e criatividade dos comediantes. Rir do que é sério e afastar a tristeza caracteriza o tempo de folia criado pelo carnaval.
José Ramos Tinhorão apurou que, em 14 de Fevereiro de 1888, vésperas da proclamação da República (1889), o Clube dos Fenianos publicava, na imprensa do Rio de Janeiro, na abertura do seu desfile (ainda chamado passeata), versos intitulados: “Ao Povo”, onde se proclamava a opressão vigente:

“ De braço dado ao começar a festa,
Vamos, ó doce musa da pilhéria,
Rir da pessoa que se torna séria,
Trocar a gente que se finge honesta.”

Do mesmo ano é o lema do Clube dos Democráticos que, enaltecendo a abolição, fazia publicar os versos:

Metei a viola no saco
É dos negros a vitória
É deles a imensa glória
Metei a viola no saco.

No Rio de Janeiro havia um grupo de letrados que se dedicava a escrever crónicas ligadas às manifestações carnavalescas, entre os anos oitenta do século XIX e os anos vinte do século XX. Reunia nomes de escritores como Olavo Bilac, Machado de Assis, Arthur Azevedo, Raul Pompéia, Coelho Neto, Urbano Duarte, Lima Barreto, Luiz Edmundo, João do Rio e Benjamin Costallat, entre outros.
Raul Pompéia, no conto O Último Entrudo (1883) e Arthur Azevedo, na peça O Bilontra (1886), faziam uso do confronto entrudo/carnaval para, de forma exemplar, revelar o embate entre o império, identificado com o regime colonial e, consequentemente, com o passado e a república, identificada com o futuro, com o progresso e a civilização.

COSTA, Haroldo - 100 Anos de Carnaval no Rio de Janeiro, São Paulo: Irmãos Vitale, 2001. p. 25
TINHORÃO, José Ramos - A imprensa carnavalesca no Brasil: um panorama da linguagem cômica. São Paulo: Hedra, 2000. p. 95

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