Era nos cinzentos derradeiros dias do Outono, nos solitários arquipélagos do Sul.
Eu estava com os silenciosos pescadores, que no breve crepúsculo levantam as velas remendadas e transparentes.
Trabalhávamos calados, porque a tarde entrava em nós e na água entumecida.
Nuvens de púrpura cruzavam, como grandes peixes, sob a quilha do nosso barco.
Nuvens de púrpura vogavam por cima das nossas cabeças.
E as velas túrgidas da balandra eram como as asas de uma ave grande e tranquila que cruzara sem ruído o vermelho crepúsculo.
Eu estava com os taciturnos pescadores que vagueiam na noite e velam o sono dos mares.
No distante horizonte do Sul, lilás e brumoso, alguém avistou um bando de pássaros.
Nós íamos na direcção deles e eles vinham direitos a nós.
Quando começaram a passar sobre os nossos mastros, ouvimos as suas vozes ou vimos os seus olhos brilhantes, que, de passagem, nos lançaram um breve olhar.
Ritmicamente voavam e voavam, uns atrás dos outros, fugindo do Inverno para os mares e as terras do Norte.
[...]
Pedro Prado
In: Pedro da Silveira - Mesa de amigos: versões de poesia. Angra do Heroismo: Secret. de Estado de educação e Cultura, 1986
O texto poético é bonito!
ResponderEliminarA.R.