segunda-feira, 23 de março de 2009

Na luz a prumo

Se as mãos pudessem (as tuas,
as minhas) rasgar o nevoeiro,
entrar na luz a prumo.
Se a voz viesse. Não uma qualquer:
a tua, e na manhã voasse.
E de júbilo cantasse.
Com as tuas mãos, e as minhas,
pudesse entrar no azul, qualquer
azul: o do mar,
o do céu, o da rasteirinha canção
de água corrente. E com elas subisse.
(A ave, as mãos, a voz.)
E fossem chama. Quase.

Eugénio de Andrade
Os sulcos da sede, quasi,5ª edição

1 comentário:

  1. É lindo, lindo, este poema. Gosto muito do Eugénio de Andrade.
    A.R.

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