segunda-feira, 9 de março de 2009

O Senhor Breton: Gonçalo M. Tavares.

Não conhecia Gonçalo M. Tavares. Olhei para o livro e o nome Breton fez-me vontade de o trazer para casa. Comecei a ler e gostei. Gonçalo Tavares nasceu em Luanda, em 1970. Já ganhou vários prémios.
"1ª Pergunta

Deixe-me colocar-lhe uma questão, senhor Breton. Todos conhecemos a noite e os dois lados que todas as noites têm: a noite dentro de casa e a noite fora de casa. Ou seja: há a tranquilidade e o esperado e há ainda o medo e a estranheza. Claro que se poderá sempre dizer que a poesia não se encontra nem num lado nem noutro: a noite tem dois lados e a poesia é a porta de casa no momento em que é aberta e o escuro cobre a erva e o céu. Mas quando alguém tem medo deve correr para casa; e quando sente tédio deve correr para a parte de fora da noite. E a poesia que parece uma coisa parada, resolve, ao mesmo tempo, o tédio e o medo; o que é bom e dois, sendo uma única, a poesia. (…)
Só para dar um exemplo: os homens que se erguem não são da mesma espécie animal que os que são derrubados e aí ficam. É isto? Concorda, senhor Breton?

***

O senhor Breton não respondeu à pergunta. Levantou-se da cadeira. Olhou para a frente e viu-se a si próprio".

Gonçalo M. Tavares - O Senhor Breton e a entrevista, Lisboa: Caminho, 2008, p. 11-12.

2 comentários:

  1. Já é um valor seguro das nossas letras. Por acaso, vejo-o muitas vezes na Av.de Roma ( ele mora na Av. de Madrid), sempre com a famosa mochila onde leva livros e cadernos. Quando não lê, escreve.
    Saramago augurou-lhe o Nobel, daqui a 30 anos.

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