domingo, 29 de março de 2009

Soneto

Se passa a nossa vida como sombra,
Se num momento desaparece a vida,
Porque estimais, senhora, tanto a vida
Correndo triste como leve sombra?

Ai vida, que, passando como sombra,
Mostras que não se pode chamar vida
Esta pesada e tempestuosa vida
Que em todo estado corre mais que sombra.

Já me desenganei que a vida corre,
A morte é certa, a conta estreita, o prémio
Alto e subido, e o castigo eterno.

Ditoso aquele que imagina e corre
Isto que tanto importa, pois o prémio
Será subido, e o castigo eterno.



Duarte Dias, Várias obras em língua portuguesa e castelhana,
Madrid, 1592
Saragoça, 1596

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