Leonardo da Vinci sempre me atraiu por causa da sua versatilidade. Em Roma vi uma exposição das suas máquinas e um filme sobre a sua vida e obra.
Quando vi o livro de Freud intitulado: "Uma Recordação de Infância de Leonardo da Vinci" não pude deixar de o trazer comigo.
Acerca do livro Freud afirma: " é a única coisa bela que escrevi".
Este livro, escrito em 1910, constituiu uma primeira abordagem psicanalítica sobre a criação artística.
A partir da decadência do poderio de Lodovico Moro, Leonardo teve que deixar Milão e partiu para França onde levou uma existência agitada e sem brilho. O humor ter-se-á tornado mais sombrio. Os seus interesses passaram da arte para a ciência, o que deve ter contribuído para alargar o fosso entre si próprio e os seus contemporâneos.
“Quando dissecava cadáveres de cavalos e de seres humanos, construía máquinas voadoras, estudava a nutrição das plantas e a sua reacção aos venenos, afastava-se bastante dos comentadores de Aristóteles e aproximava-se dos desprezados alquimistas”.
Qual será a recordação de infância?
Sigmund Freud, Uma Recordação de Infância de Leonardo da Vinci, Lisboa: Relógio de Água, 2007, p. 9
A recordação de infância prende-se com o quadro que está na capa do livro. Apesar de algumas reticências que tenho em relação a Freud, este é um texto que me convence especialmente se tivermos em conta tudo o que se sabe sobre o quadro. E mais não digo.
ResponderEliminarTambém tenho reticências em relação a Freud mas adoro este quadro e mais tarde falarei nele...
ResponderEliminarNunca li este livro. Acho que vou fazê-lo.
ResponderEliminarM.
"Tudo começou quando Freud adivinhou no ambíguo sorriso das mulheres pintadas por Leonardo da Vinci a ternura sublimada mas inquieta por uma mãe longínqua."
ResponderEliminarTudo começou quando Freud adivinhou no ambíguo sorriso das mulheres pintadas por Leonardo da Vinci a ternura sublimada mas inquieta por uma mãe longínqua.
ResponderEliminarDa leitura do livro de Sigmund Freud “Uma recordação de infância de Leonardo da Vinci” (Relógio D’Água Editores, Setembro 2007) ressalta o quanto a ausência da mãe do grande artista Renascentista o influenciou e limitou em alguns dos aspectos da sua vida enquanto homem e enquanto artista, tornando-o num “menino triste”.
De facto, como escrevi num dos primeiros posts deste Blog, uma criança pode tornar-se numa “criança triste” se não crescer nos braços da sua mãe, ou se não vir os seus sonhos tornarem-se realidade.
Com efeito, Leonardo da Vinci, que se sabe ser filho ilegítimo de Ser Piero da Vinci, notário, e de Caterina que era provavelmente camponesa, à qual foi arrancado quando tinha a idade entre três e cinco anos, para ir viver com o pai e com a terna e jovem madrasta Donna Albiera, a mulher de seu pai.
Leonardo terá guardado saudade imensa da sua mãe, que terá reencontrado quando tinha 41 anos, em 1493, quando esta o foi visitar a Milão. Reencontro infeliz, já que Caterina adoeceu e veio a falecer; as notas tomadas por Leonardo quanto às despesas com o seu funeral assim o confirmam.
Freud, através da observação dos sorrisos das figuras femininas pintadas em A Virgem com o Menino e Stª Ana (c. 1508-1513)consegue ver neles o mesmo sorriso que Leonardo pintou no quadro Mona Lisa del Giocondo. Segundo o autor, o sorriso de Mona Lisa terá despertado em Leonardo, já adulto, a recordação da mãe dos seus primeiros anos de infância.
[...]Quando Leonardo, chegado ao apogeu da sua vida, voltou a encontrar o sorriso de bem-aventurado êxtase que outrora animara a boca da sua mãe quando ela o acariciava, encontrava-se desde há muito sob o domínio de uma inibição que lhe proibia voltar a desejar tais carícias dos lábios de uma mulher. Mas tornou-se pintor e por isso esforçava-se por reproduzir com o pincel este sorriso em todos os seus quadros, e não só naqueles que ele próprio executou mas também nos que fez executar pelos seus discípulos, sob a sua orientação, tais como a Leda, o S. João Baptista e o Baco.[...]
J. Mascarenhas