Da luva lentamente aliviada
a minha mão procura a primavera
Nas pétalas não poisa já geada
E o dia é já maior do que ontem era
Não temo mesmo aquilo que temera
se antes viesse: chuva ou trovoada
É este o deus que o meu peito venera
Sinto-me ser eu que não era nada
A primavera é o meu país
saio à rua sento-me no chão
e abro os braços e deito raiz
e dá flores até a minha mão
Sei que foi isto que nem sequer quis
e reconheço a minha condição
Rui Belo
In: Obra poética. Lisboa: Presença, 1984, vol. 1, p. 172
Gosto do Rui Belo e desta primavera.
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