Chuva fina
Matutina
Manselinho orvalho quase:
Névoa ténue sobre a selva,
Pela relva,
Desdobrada, etérea gaze.
Chuva fina,
Matutina,
O pardal de húmidas penas,
A folhagem e a formosa
Clara rosa,
Sonham que és seu sonho, apenas.
Chuva fina,
Matutina,
Pelo sol evaporada,
Como sonho pressentida
E esquecida
No clarão da madrugada.
Chuva fina,
Matutina:
Brilham flores, brilham asas,
Brilham as telhas das casas
Em tuas águas velidas
E em teu silêncio brunidas…
Chuva fina,
Matutina,
Que te foste a outras paragens.
Invisível peregrina,
Clara operária divina,
Entre límpidas viagens.
Cecília Meireles
In: Metal rosicler. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1960, p. 29-30
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