Tolstoi retratado por I. Kramskoï, 1873
«Guerra e Paz é a mais vasta epopeia do nosso tempo, uma Ilíada moderna, onde se agita um mundo de figuras e de paixões.
«Sobre este oceano humano de vagas inumeráveis paira uma alma soberana, que sobreleva e refreia as tempestades com serenidade.
«Várias vezes, ao contemplar esta obra, tenho pensado em Homero e em Goethe, não obstante as diferenças enormes de espírito e de tempo.»
Romain Rolland
«Guerra e Paz é um dos mais belos prodígios que o cérebro concebeu.»
Jean Cassou
«Guerra e Paz é na verdade uma obra filosófica : nela interroga Tolstoi a natureza a propósito de cada homem; nela predomina ainda uma ingenuidade muito homérica ou muito shakespereana, quer dizer, a ausência de qualquer desejo de retribuir os homens segundo o bem e o mal, a consciência de que se tem de ir buscar mais alto a responsabilidade da vida humana, para além do próprio homem.»
Léon Chestov
«Assim falaria a Vida – se a Vida falasse.»
Charles du Bos
«Guerra e Paz é mais do que um romance: é a epopeia da vida social e da história russa durante o período das guerras napoleónicas. Há aí matéria para vinte romances do tipo comum. As personagens movem-se num fundo imenso e todas vivem. Tolstoi possuía em grau supremo o dom da caracterização: não toca num ser humano sem o fazer viver.»
John Macy
«Em Tolstoi […] confluem, com os mais altos dons, o sentimento multímodo do homem terrestre e do seu problemático destino.»
José Marinho
Filme realizado por King Vidor, em 1956
Este livro é o livro da minha vida, sem dúvida alguma. E acho que vai permanecer como tal.
Li-o, depois de ter ido ver o filme, aí em 1966, no Éden. No dia seguinte fui comprar o livro: 4 volumes em formato pequeno com cerca de 360 p. cada um, traduzidos por Isabel da Nóbrega e João Gaspar Simões. Devorei-os. E desde então já os li várias (pelo menos três) vezes na totalidade e vezes sem conta excertos.
A minha personagem preferida é Pierre Bezhukov (no cinema interpretada por Henry Fonda, que desde então ficou sendo um dos meus actores preferidos), personagem inquieta, na qual Tolstoi personifica as mais profundas preocupações da humanidade: «uma natureza inquietante religiosa em que a fé se revela com todas aquelas dúvidas e perplexidades acentuadas a partir do Renascimento; um forte sentido terreno da existência e um grande apelo de justiça e dignificação do homem que defrontam, imperativamente, a angústia perante a morte e a sede de perenidade.» Uma procura dolorosa entre o segredo da vida e da morte. Muitos vêem neste personagem a projecção do próprio Tolstoi.
O filme tem uma música maravilhosa de Nino Rota, facto em que só reparei quando comprei o DVD, há pouco tempo.
O livro é o retrato da sociedade russa na época das guerras napoleónicas: a contradição entre a vontade de conquista de Napoleão e a ameaça que se abate sobre o povo russo, na sua própria essência. O que faz deste livro um dos maiores da história literária é a riqueza psicológica com que Tolstoi caracteriza as suas personagens. Um romance em que não há uma personagem central: André? Pedro? Natasha? É antes o entrelaçar entre o destino paralelo de duas famílias nobres: uma, os Rostov, arruinada; a outra, os Bolkonsky, próspera.
Tolstoi estudou as circunstâncias e locais onde se travaram as batalhas, informou-se acerca de Napoleão, tendo para isso pesquisado nos arquivos de São Petersburgo.
Desde o início do romance, «desde o primeiro diálogo entre Ana Pavlova e o príncipe Vassili, com as cenas seguintes da reunião em casa daquela e do primeiro diálogo íntimo entre Pedro e André, propõe o romancista todo o seu tema. Os humanos vivem mesquinha e contraditoriamente a paz, e a guerra resulta de uma tentativa de escapar a essa mesquinhez e contradição. Mas a guerra, por seu turno, desnuda todo o absurdo, toda a miséria, toda a crueldade do homem. E dessa experiência, regressa ele, não menos desiludido, ao mesmo que antes fora.»
«Algumas cenas de paz como alguns episódios de guerra merecem especial menção, embora seja difícil encontrar obra romanesca de tão vasto plano onde tão intensa minúcia de pormenores anime o desenvolvimento da acção. É notável, por exemplo, a descrição da morte do conde Bezuhkov, a dos amores infantis na casa Rostov, os múltiplos aspectos do drama conjugal, os pequenos interesses e vaidades da vida de sociedade, do solilóquios de Pedro, o pasmo de André, estendido no campo de batalha, ante a profundidade do céu que pela primeira vez descobre, a mesquinha realidade da guerra vivida comparada ao heroísmo da fantasia ou desespero, o encontro de Pedro com a alma profunda do povo simbolizado em Karataiev, porventura o mais característico momento de todo o livro, as esperanças magníficas do exército de conquista e as grandes e pequenas misérias da retirada.» (José Marinho)
Guerra e Paz foi um enorme sucesso quando foi publicado, surpreendendo o próprio autor. O título foi retirado de uma obra homónima de Proudhon, editada em 1861.
O livro é o retrato da sociedade russa na época das guerras napoleónicas: a contradição entre a vontade de conquista de Napoleão e a ameaça que se abate sobre o povo russo, na sua própria essência. O que faz deste livro um dos maiores da história literária é a riqueza psicológica com que Tolstoi caracteriza as suas personagens. Um romance em que não há uma personagem central: André? Pedro? Natasha? É antes o entrelaçar entre o destino paralelo de duas famílias nobres: uma, os Rostov, arruinada; a outra, os Bolkonsky, próspera.
Tolstoi estudou as circunstâncias e locais onde se travaram as batalhas, informou-se acerca de Napoleão, tendo para isso pesquisado nos arquivos de São Petersburgo.
Desde o início do romance, «desde o primeiro diálogo entre Ana Pavlova e o príncipe Vassili, com as cenas seguintes da reunião em casa daquela e do primeiro diálogo íntimo entre Pedro e André, propõe o romancista todo o seu tema. Os humanos vivem mesquinha e contraditoriamente a paz, e a guerra resulta de uma tentativa de escapar a essa mesquinhez e contradição. Mas a guerra, por seu turno, desnuda todo o absurdo, toda a miséria, toda a crueldade do homem. E dessa experiência, regressa ele, não menos desiludido, ao mesmo que antes fora.»
«Algumas cenas de paz como alguns episódios de guerra merecem especial menção, embora seja difícil encontrar obra romanesca de tão vasto plano onde tão intensa minúcia de pormenores anime o desenvolvimento da acção. É notável, por exemplo, a descrição da morte do conde Bezuhkov, a dos amores infantis na casa Rostov, os múltiplos aspectos do drama conjugal, os pequenos interesses e vaidades da vida de sociedade, do solilóquios de Pedro, o pasmo de André, estendido no campo de batalha, ante a profundidade do céu que pela primeira vez descobre, a mesquinha realidade da guerra vivida comparada ao heroísmo da fantasia ou desespero, o encontro de Pedro com a alma profunda do povo simbolizado em Karataiev, porventura o mais característico momento de todo o livro, as esperanças magníficas do exército de conquista e as grandes e pequenas misérias da retirada.» (José Marinho)
Guerra e Paz foi um enorme sucesso quando foi publicado, surpreendendo o próprio autor. O título foi retirado de uma obra homónima de Proudhon, editada em 1861.
Desculpem estas notas um pouco desgarradas, mas não tive sequer tempo para reler partes do livro.
Citações de José Marinho de Guerra e Paz / trad. José Marinho. Lisboa: Inquérito, [1943], vol. 1
Este é O MEU LIVRO! Já sabia que também era o seu. Tivemos umas trocas de comentários há uns tempos. Nunca nos cansamos de ler este livro.
ResponderEliminarÉ uma tristeza porque hoje ninguém o lê.