Eu não poderia conceber-te
se fosse um homem só
no meu deserto
se não desse um passo para um outro
se não o ouvisse no meu silêncio
respirar
se eu não quisesse ser o outro
entre os meus ombros
se não pudesse reconhecer
que o outro era eu o outro
que falava com este e com aquele
o outro com todos os outros
o outro que eram todos como um só
que não estava só em todos
e eras tu na liberdade de outra vida
a liberdade que respirava em todos nós
eras tu era por ti sob a asfixia
que eu e todos te reconhecíamos
nos reconhecíamos
eras tu ainda sem podermos hastear a tua bandeira
sem podermos gritar o teu nome
abertamente na alegria da vitória
eras tu em nós através das fronteiras e dos muros
que respiravas em nós
era por ti por todos nós que nós lutávamos
António Ramos Rosa
In: Na liberdade: antologia poética: 30 anos-25 de Abril. Peso da Régua: Garça, 2004, p. 45
É bonito este poema.
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