domingo, 26 de abril de 2009

Ternura, David Mourão-Ferreira.

Presente do dia 25 de Abril, poema de David Mourão-Ferreira escolhido por Natália Correia.

TERNURA

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
de frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada…

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio…

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo…

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

(Infinito Pessoal ou a Arte de Amar)

David Mourão – Ferreira, in Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, Selecção, prefácio e notas de Natália Correia, Lisboa: Antígona & Frenesi, 2008, p. 446

1 comentário:

  1. Podem ouvir o Luis Cilia cantar este poema em:

    http://www.youtube.com/watch?v=AYHr5mh6Jw8&feature=channel

    O Luis tem um disco todo ele dedicado à poesia de David Mourão Ferreira

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