Para um leigo, ou profano na designação maçónica, o livro do Juiz José Costa Pimenta conceituado jurista com vasta bibliografia na área do Direito, é uma descoberta interessantíssima. Lê-lo é ficar a conhecer mais da doutrina da Maçonaria, seja a da Regular como a da Irregular, que vem até nós ao longo de séculos.
O tema do livro, porque é António de Oliveira Salazar, Presidente do Conselho de Ministros durante quase toda a II República, ou Estado Novo, tem feito tremer as paredes do Templo e as muralhas atrás das quais se refugiam os seus últimos seguidores, passados que foram 39 anos da sua morte. Para os maçons e para os salazaristas este livro é provocatório e incomodativo. Põe em causa princípios e valores, atinge homens que, ao lado de Salazar, também ele um “traidor”, aparentemente traíram a sua obediência, atinge a figura do ditador que, aparentemente, teria traído todos os seus ultra – conservadores seguidores e aliados monárquicos, republicanos e tutti quanti.
O método de prova para a identificação de Salazar com a Maçonaria – para além da verificação de que muito cedo deixou de frequentar os sacramentos da Igreja Católica em que foi educado, certamente porque aderira à "religião natural", (curiosa a explicação dada pela governanta D. Maria a uma afilhada, de que o Papa o teria dispensado de se confessar e comungar…) – é o de tomar palavras –chave da doutrina maçónica e de as “encontrar” nos escritos de Salazar, principalmente nos seus discursos. A verdade é que, usadas exactamente na mesma acepção, elas parecem revelar uma filiação na doutrina da Maçonaria. Si non è vero…
Lendo este livro, eu que não sou maçon nem muito menos salazarista, não fico perturbado. Ao contrário, fico a perceber melhor o pensamento político do autocrata de Santa Comba Dão, muitas das suas acções, muito das suas ambiguidades, das suas simpatias e antipatias políticas.
E, no fundo, apesar dos atropelos à doutrina e prática maçónicas, Salazar até, ao construir um regime à sua exacta medida e das suas ambições de poder pessoal, inscreveu na Constituição de 1933 as liberdades formais (que depois suspendeu com outras normas) e o Estado Novo era uma democracia, embora orgânica…
E, no fundo, apesar dos atropelos à doutrina e prática maçónicas, Salazar até, ao construir um regime à sua exacta medida e das suas ambições de poder pessoal, inscreveu na Constituição de 1933 as liberdades formais (que depois suspendeu com outras normas) e o Estado Novo era uma democracia, embora orgânica…
Afirma-se por aí que foi iniciado na Loja Revolta nº 336, em Coimbra, em 1914, proposto pelo seu amigo maçon, Bissaya Barreto. E que escolheu o nome de código de Pombal. Afirma-se, também, que teria dito que gostaria de ser primeiro –ministro de um rei absoluto. Tal como o marquês de Pombal que, sendo maçon, não deixou de ser um déspota "iluminado".
Sabido que a Maçonaria está onde está o poder, porque não acreditar que Salazar foi maçon? Eu, que sou profano, fiquei a acreditar.
Já dei para este peditório, há umas semanas.
ResponderEliminarÉ muito generosa, Miss Tolstoi...
ResponderEliminarGosto de provocações. Sem se ler o livro não se pode comentar, mas o tema é polémico e o seu último parágrafo é pertinente. Fica no ar a questão: Salazar terá sido maçon?
ResponderEliminarA.R.
Então já mo pode emprestar :)
ResponderEliminarAchei muito interessante a entrevista dada pelo autor do livro ao JN. Pode ser lida em:
ResponderEliminarhttp://jn.sapo.pt/Domingo/Interior.aspx?content_id=1191922
Já li a entrevista no JN e gostei. Não deu para perceber qual o objectivo do autor mas já fiquei com uma luz. E, tal como eu pensara, um jurista na sua praxis preocupa-se com o ónus das provas, parece que transpôs essa preocupação para a sua investigação.
ResponderEliminarAgora só há lugar para ler o livro.
Obrigada ao anónimo que colocou o site com a entrevista.
A.R.
O texto supra - "Uma leitura de "Salazar o maçom"» - aparece positivamente valorizado no blogue da Editora Bertrand. Está de parabéns o Autor desse texto. Veja-se http://nao-ficcaoportuguesa.blogspot.com/
ResponderEliminarTambém eu fui levado pela curiosidade quando comprei o livro. Seria Salazar um maçon? E o que é ser maçon?
ResponderEliminarA estas duas perguntas responde directamente o autor de tal modo que fico inclinado a responder que sim, Salazar provavelmente seria maçon. Para além disso, o livro fornece uma excelente introdução à maconaria (que só por si merece a compra do livro).
É um excelente livro, que recomendo a quem quiser tentar ver mais além do que aquilo que os homens que fizeram a história quiseram consagrar.
Jorge Pinto
Ainda não passei os olhos pelo livro...
ResponderEliminarA entrevista está cheia de erros...
ResponderEliminarParece que os lietores gostaram, porque o livro em questão já esgotou a 1.ª e vai na 2.ª edição e está ao lado de Dan Brown (boa companhia?) na montra da Livraria Bertrand do Centro Comercial Colombo.
ResponderEliminarAfonso Costa [1871-1937] é o autor original da tese de que Salazar era comunista, tese essa que defendeu em A VERDADE SOBRE SALAZAR, livro de 144 páginas, publicado em 1934, no Rio de Janeiro, e agora à venda no miau.pt. Trata-se de um conjunto de entrevistas concedidas a José Jobim, em Paris. Lê-se, a p. 7: «Este livro é uma resposta a "Salazar" do Sr. António Ferro.» Eis algumas frases desse livro de Afonso Costa: «[Salazar quer prosseguir] na execução do seu programa horrível de tranformação de Portugal num novo "Estado Ideal Comunista"»; «[há] o Estado, também fundamentalmente comunista, em que o doutor Salazar desejaria transformar Portugal»; «[há] tendências comunistas especiais [...] na obra económica da ditadura portuguesa»; «Assim criou Salazar o Estado forte [...] que já vai tomando umas tintas de comunismo»; «nunca se chegou a extremismo idêntico em nenhum outro país, e nem mesmo na Rússia»; «[Salazar quer um Governo] à luz da experiência comunista da Rússia».
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