segunda-feira, 11 de maio de 2009

60 anos de uma nação: 1949

Konrad Adenauer, Presidente do Conselho Parlamentar, assina em Bona a 23 de Maio a declaração oficial com que entra em vigor o chamado Grundgesetz. 65 deputados de parlamentos estaduais das três zonas ocidentais tinham, sob a égide de Adenauer, elaborado esta “Lei Fundamental / Lei Base” ao longo de nove meses, prevista para um estado alemão ocidental, supostamente provisório. O Conselho atribui deliberadamente o estatuto de “Lei Base” em vez de “Constituição” que, no entender dos deputados, deverá ser proclamada apenas no contexto de uma Alemanha reunificada. O Grundgesetz institui um estado democrático em que são assegurados e respeitados os direitos humanos fundamentais. Nasce assim a República Federal Alemã. Três cidades candidatam-se a capital da jovem república: Bona triunfa sobre as concorrentes Frankfurt (am Main) e Kassel.
No entanto, a RFA continua oficialmente sob o domínio dos três Aliados ocidentais que se reservam os mais latos poderes de intervenção no âmbito do chamado Besatzungsstatut (estatuto de território ocupado).


As primeiras eleições legislativas realizam-se em Agosto. O partido conservador (CDU) alcança, em coligação com o partido neo-liberal (FDP), a maioria. Konrad Adenauer é eleito o primeiro chanceler da nova era. Os alemães (ocidentais) pronunciam-se assim claramente a favor de uma economia de mercado, com intervenção pública apenas no campo social, em detrimento de uma economia de plano. Mentor desta ordem económica (Soziale Marktwirtschaft) é Ludwig Erhard, Ministro da Economia.

Adenauer abre a RFA à Europa ocidental e aos Estados Unidos. O povo alemão pertence, segundo o chanceler, ao mundo europeu ocidental “quer pela sua origem quer pela sua mentalidade”. Duas semanas depois e em resposta aos acontecimentos na zona ocidental, é fundado o segundo estado alemão: a República Democrática Alemã proclama uma constituição própria. A capital é Berlim oriental. O partido (comunista) único SED (Sozialistische Einheitspartei Deutschlands) considera a RDA como veículo provisório que pretende a dissolução da RFA rumo a uma Alemanha reunificada.


Imagens: Alemanha em 1949; Konrad Adenauer; "Através do povo, com o povo, para o povo" - propaganda em prol da nova Constituição da RDA

5 comentários:

  1. Confesso a minha perplexidade pelos "60 anos da Nação Alemã". 60 anos? Mas a nação alemã não é anterior à guerra? Ou foram as fronteirtas da nação alemã que foram fixadas definitivamente(?) depois de 1949? Talvez o Filipe me saiba elucidar.

    ResponderEliminar
  2. É interessante. Espero pelas respostas às questões de João Mattos e Silva.
    A.R.

    ResponderEliminar
  3. Caro João, a questão colocada é pertinente. Como é do conhecimento geral, a Alemanha existe, como nação, naturalmente há mais de 60 anos. O título escolhido é, por isso, “60 anos de uma nação” em vez de “60 anos de nação ou 60 anos como nação”. Do passado longínquo alemão, são seleccionados os 60 anos desde 1949, ano em que a nação alemã se constitui sob um novo estado: República Federal da Alemanha (que, entre 49 e 89, coexistia com a RDA). Tal designação oficial nunca existiu na História Alemã. A criação de um país novo, democrático e composto por 16 estados com latos poderes de autonomia, é o centro das comemorações em curso.

    Quanto à fixação de fronteiras: as fronteiras de hoje são idênticas às de 1949 (com a excepção do Saarland que aderiu à RFA em 1957)e, devido à derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, diferentes das de 1945.

    Os media alemães nem sempre são precisos em relação à terminologia deste aniversário: se especificarmos o aniversariante, ter-se-á de dizer correctamente: 60anos de RFA. Incorrecto é 60 anos de Alemanha, como, aliás, já tenho visto e lido.

    ResponderEliminar
  4. No dia 4 de Novembro de 1989 estava em Wolfenbüttel, na estação de caminho de ferro. Vi partir um dos comboio com destino "ao outro lado" e senti um pouco do sentimento do povo Alemão.
    Cheguei a Portugal a 8 de Novembro de 1989.
    Compreendi a alegria testemunhada na TV no dia seguinte.
    Voltei à Alemanha, fui a Berlim, aluguei (por um marco) um maço e ajudei a partir um pouco do que ainda restava do muro. Estava a trabalhar como pedreiro operativo. Ainda conservo um pedaço do muro que ajudei a partir.
    Fiz ambas as viagem com dois grandes amigos... Foram momentos únicos de alegria e liberdade!
    Em 2007 e em 2008 tive dois convites oficiais para fazer uma conferência em Berlim. Não aceitei porque hoje nenhum deles me pode fisicamente acompanhar.
    O Filipe compreende muito bem o sentimento alemão.
    J

    ResponderEliminar
  5. Obrigado Filipe. Como é óbvio as designações mais correctas seriam "60 anos da RFA" ou "60 anos da nova Alemanha".
    Só quero recordar também que estive na RFA e na RDA por duas vezes e senti na RFA (e à socapa na RDA numa breve troca de palavras com um criado de mesa) o que pensava o povo alemão da divisão em dois estados. Isto apesar de o pequeno grupo com quem me desloquei a Berlim Leste,entrando pelo célebre Chekpoint Charlie para apanhar o combóio,ter sido amavelmente acompanhado durante todo o percurso por dois simpáticos agentes, a quem volta e meia cumprimentávamos...
    Porque se me afigurava uma utopia a reunificação, confesso, vibrei com as imagens televisivas da destruição do muro, que tinha visto a meia dúzia de metros de uma janela do Reichstag e o fluxo enlouquecido de pessoas que encheram a Unter den Linden para atravessarem as portas de Brandenbug. Emocionante e inesquecível.

    ResponderEliminar