Arcanjo S. Miguel, Igreja de S. Francisco, Évora.

A inteligência, a justiça e a verdade superam a malícia.

S. Miguel, Igreja de S. Francisco, Évora

Painel datado entre 1530 e 1540

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O painel eborense apresenta um S. Miguel combativo, de balança na mão e espada em riste, que domina e calca o corpo do demónio – este tentando agarrar uma figurinha de um dos pratos da balança. O demónio, porém, em vez de aparecer segundo o modelo monstruoso e rídiculo em voga na época, está representado por uma mulher graciosa e nua, de cara redonda e olhos lânguidos, cabelos longos a escorregar pelas espáduas, o tronco numa contorção e com a parte inferior do corpo envolta num pano que esvoaça. Tal imagem constituía, sem dúvida, um atentado ao pudor da época. Ela foi, por isso, inteiramente coberta de tinta, sendo substituída por uma nuvem compacta, sobre a qual ficou S. Miguel em posição estranha[1].

A malícia dos censores acabou por ser vencida pela justiça de trazer à luz do dia a beleza da imagem. A verdade transparece sempre através das núvens.
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Pormenor e painel de S. Miguel da Igreja de S. Francisco, Évora, restaurado por Fernando Mardel em 1940. Fotografias de Luís Reis Santos (1950).

1] GONÇALVES, Flávio, “A destruição e mutilação de imagens durante a Contra-Reforma portuguesa”, História da Arte, Iconografia e Crítica, Lisboa: Imprensa Nacional- Casa da Moeda, 1990, p.115-116.