sábado, 16 de maio de 2009

Duras palavras ...

Trata-se de um artigo já quase com uma semana, mas vale a pena transcrevê-lo. Daniel Bessa a falar com uma clareza que nunca lhe vi quando teve funções governativas.

" A classe política, e os portugueses em geral, têm-se ocupado a discutir a solução governativa a partir de Outubro próximo. Com todo o respeito, parece-me um devaneio primaveril. Um país que deve ao exterior mais de 100% do seu PIB anual ( sim, caro leitor, cerca de 20.000 euros cada um de nós, ainda que por interpostas pessoas ) , e se endivida à razão de dois milhões de euros por hora ( 10% do PIB anual ) , pode até escolher Governo ( os executantes ) mas já não tem escolha de políticas. Eu sei, como o leitor, que há uma única solução condigna: produzir mais e exportar mais. Só que já não há tempo para essa solução e, nos tempos mais próximos, já não há alternativa a gastar bastante menos ( nós todos, Estado, empresas e famílias ) . Infelizmente. Podemos até fingir que nos esquecemos desta dura realidade. Não importa. Lá para Novembro, quando começar a aproximar-se o Inverno, os credores imporão, primeiro a política e, se necessário, os próprios executantes. E quanto mais "marialvas" nos mostrarmos, mais depressa nos obrigarão a gastar menos. O FMI tratou do assunto em 1977 ( Governo PS-CDS ) e em 1983 ( Governo de Bloco Central ) . Em 2010, os credores far-se-ão representar pela Comissão Europeia. Votemos, entretanto. "

- Daniel Bessa, Devaneio primaveril, in Expresso de 11 de Maio de 2009.

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