domingo, 28 de junho de 2009

Homenagem ao Papagaio Verde!

À memória de meu pai...
Por associação de ideias com as notícias do Brasil lembrei-me do papagaio verde que a minha tia Laura trouxe daquelas paragens para o meu pai e com quem convivi.
Surgiu, então, na memória este texto de Jorge de Sena:
x
"[...] No começo das minhas memórias de infância, o Papagaio Verde era um animal fabuloso que me recebia aos gritos, enquanto dava voltas no poleiro, trocando os pés, e me olhava de alto com um olho superciliar, e de bico entreaberto. Quando comecei a vê-lo, via-o muito pouco, já que ele vivia na "varanda da cozinha" que me era proibida por causa das torneiras, como a cozinha o era por causa do lume. Ficávamos, quando eu conseguia iludir as vigilâncias, ou subornar o cordão sanitário, os dois numa contemplação embebida: eu, de mãos nos bolsos do bibe de quadradinhos azuis e brancos (que era o uniforme do meu presídio), e ele, com a gaiola pendurada alta, entreabrindo as asas para um vôo um tanto ameaçador, com a cabeça de banda, e soltando uma espécie de grunhido que culminava num arrepio que o eriçava todo. Que era brasileiro e fora trazido do Brasil, eu sabia. Mas, antes de ser posto naquela varanda, onde parecia, numa casa triste e soturna, uma nódoa insólita, obscenamente garrida, viajara muito. Vivera a bordo de navios, cheirara longamente o mar, não a maresia ribeirinha, mas os ventos do largo, prenhes de fina espuma e de um ardor de andanças. [...] ".
Jorge de Sena, Homenagem ao Papagaio Verde
Nota: O meu papagaio não estava numa gaiola, é verdade que estava preso, mas num poleiro de pé alto.

Sem comentários:

Enviar um comentário