sexta-feira, 5 de junho de 2009

"A minha pátria é a língua portuguesa", Fernando Pessoa


III - Os Tempos

Quinto

NEVOEIRO

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!
x x xxxxxValete, Fratres

Fernando Pessoa, Mensagem, Lisboa: Ática, 1979, p. 104.

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