Judith Traherne (Bette Davis), uma herdeira norte-americana mimada de Long Island, divide o seu tempo entre os seus cavalos (Humphrey Bogart é o mestre dos estábulos) e festas sociais (um dos seus amigos é interpretado por um jovem Ronald Reagan). Começa a ter dores de cabeça fortes e tonturas, que a levam a consultar um médico, o Dr. Frederick Steele (George Brent), em vias de se dedicar exclusivamente à investigação. O veredicto é negro: Judith tem um tumor no cérebro, e terá que ser operada.
No decurso da operação, Frederick percebe que o tumor é intratável e Judith tem uma esperança de vida de menos de um ano. O fim, no entanto, será abrupto: ocorrerá rapidamente após uma perda total da visão.
Para lhe permitir mais alguns meses de felicidade, esconde os resultados: anuncia que a operação foi um sucesso. Apenas a melhor amiga de Judith, Ann (Geraldine Fitzgerald) descobre a verdade, mas aceita manter-se em silêncio. A relação entre médico e paciente evolui para o campo amoroso, e Judith e Frederick decidem casar, com este último numa busca incessante de novos tratamentos para o tumor. Arrumando papéis, Judith descobre múltiplas cartas de especialistas de todo o mundo, dando o caso como perdido. Revoltada por pensar que a decisão de casamento de Frederick se devia a piedade, cancela tudo. Reflectindo, apercebe-se de que deverá tentar passar os seus últimos meses de forma digna e ao lado do homem que ama. Pedindo desculpas a Frederick pelo seu comportamento, os dois casam e vão viver para Vermont.
Uns meses depois, Judith está no jardim a plantar flores com Ann quando comenta a estranheza de o sol estar tão quente e o céu a escurecer tão depressa… Dentro de casa, Frederick está a fazer as malas para um simpósio médico, nova tentativa de encontrar uma cura. Judith ajuda-o a fazer as malas e despede-se dele; reentra em casa, despede-se da amiga, da governanta e dos cães e sobe as escadas para o quarto.
Notas de produção
Realizado por Edmond Goulding e produzido por Hal B. Wallis, o gigante da Warner Bros., o filme é o que os americanos chamam um “tear-jerker”, ou seja, de sacar dos lenços do princípio ao fim; Graças à música de Max Steiner, podemos inclui-lo na categoria dos melodramas.
O argumento, de Casey Robinson, é baseado numa peça homónima de George Brewer e Bertram Bloch, de 1934, que fora um fracasso. David O. Selznick, havia adquirido os direitos e tentou realizar o filme com Greta Garbo em 1935, mas esta preferiu fazer “Anna Karenina”. Com a atenção completamente devotada a “E Tudo o Vento Levou”, o produtor acabou por abandonar o projecto.
Entretanto, Bette Davis insistia com Jack L. Warner para comprar os direitos do filme; o produtor resistia, achando que não havia público para ver uma mulher a cegar. As bilheteiras provaram o seu engano – veio a ser o melhor resultado de bilheteira de Bette Davis até à data. O filme marca a segunda de quatro colaborações entre Bette Davis e Edmond Goulding; marca igualmente a oitava colaboração com George Brent.
Nos bastidores, Davis sofria uma depressão pelo colapso do seu casamento, tendo pedido a Hal B. Wallis para sair do projecto alegando estar doente. O produtor terá respondido: “Já vi os rushes; continue doente!”. Em paralelo, George Brent acabava de se divorciar de Ruth Chatterton; as estrelas do filme encontraram refúgio nos braços um do outro, começando um romance que duraria mais um ano.
Reacções
O filme foi nomeado para três Óscares da Academia, nomeadamente Melhor Filme, Melhor Actriz (Bette Davis) e Melhor Banda Sonora (Max Steiner), não tendo conquistado nenhuma das estatuetas. Para Davis, foi a terceira nomeação para os Óscares em cinco anos; foi a segunda do que viriam a ser cinco nomeações consecutivas.
A crítica de cinema Pauline Kael chamou ao filme “um clássico kitsch”. O site “Rotten Tomatoes” utilizou o epíteto “Soberbo”. A “TimeOut” de Londres presenteou-o com “[Bette Davis] e [o realizador Edmund] Goulding quase transformam o novelesco em estilo; um Rolls-Royce do mundo lacrimejante.” A “Variety” chamou-lhe “drama intenso” e “uma oferta bem produzida [com] Bette Davis num papel poderoso e impressionante.”
Frank S. Nugent no “New York Times” apresentou a crítica porventura mais redonda: “Uma visão completamente cínica descartaria tudo como um desvario emocional, uma peça sem alma destinada a simplórios por um dramaturgo e afins bem versados nos usos da cegueira e outras improvisações sobre ‘A Dama das Camélias’. Mas é impossível ser-se assim tão cínico. O ambiente é demasiado pungente, os desempenhos demasiado honestos e os artesãos do filme demasiado hábeis. Miss Davis, naturalmente, dominou – e bem – o seu filme, mas Miss Fitzgerald acrescenta um retrato sensível e tocante da amiga e George Brent, como o cirurgião é – atrevemo-nos? – surpreendentemente contido e maduro. Desta vez temos de correr o risco de nos chamarem "softy": não despacharemos “Vitória Negra” com um esgar auto-defensivo”.
Boa "review", mas acho que revelaste demais!
ResponderEliminarAproveito para agradecer a "oferta" dos Epitáfios.
Uma das minhas actrizes preferidas. Do Humphrey Bogart já não digo o mesmo. E do ano de 1939 há "A história dos crisântemos tardios", de Mizogushi e "A Regra do jogo", de Jean Renoir, filmes da minha eleição.
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