AS PONTES
Céus de cristal cinzento. Um bizarro traçado de pontes, bombeadas, umas, outras, rectilíneas, outras descendo e obliquando em arco sobre as primeiras, e multiplicando-se todas estas linhas pelos outros circuitos do canal, tão longas todas e aeroladas, que as margens, repletas de cúpulas, se afundam e minimizam. Algumas destas pontes ainda ostentam ruínas. Outras suportam mastros, sinais, frágeis parapeitos. Acordes menores cruzam-se e desaparecem: sobem cordas pelas ribanceiras. Distingue-se um fato vermelho, talvez outras roupas e instrumentos de música. São canções populares, restos de concertos senhoriais, reminiscências de hinos?
A água é cinzenta e azul, larga como um braço de mar.
Um raio branco, tombando do alto do céu, aniquila esta comédia.
Jean –Arthur Rimbaud, Iluminações – Uma Cerveja no Inferno (tradução de Mário Cesariny), Lisboa: Assírio & Alvim, p.45
Será que também tem uma ponte preferida?
A minha é a de Sant'Angelo, Roma.
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