quinta-feira, 23 de julho de 2009

Interrogação ou exclamação


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Uma agradável surpreza esperava hoje por mim.
Uma reprodução de uma das primeiras cópias, senão a primeira, do poema de Antero de Quental, que mais tarde (1878) receberia o nome LOGOS.

Foi escrito no Luso, entre 9 de Agosto e 7 de Setembro de 1875.
Esta versão foi enviada numa carta escrita, a 7 de Setembro, por Antero, a Jaime Batalha Reis.

Meu caro Jaime
[...]

Envio-lhe 2 sonetos feitos aqui: achará neles bastante Filosofia, mas receio que lhe pareçam pouco poéticos.
Adeus.

Do seu, seu do Coração
Anthero

? [ou !]

Tu, que eu ao [*] vejo, e estás ao pé de mim...
E, o que é mais, dentro em mim - que me rodeias
Com um nimbo de afectos e de ideias
Que são o meu princípio, meio e fim...

Que estranho ser és tu (se és ser) que assim
Me arrebatas contigo e me passeias
Em regiões indefiniveis, cheias
De encanto e de pavor... de não e sim...

És um reflexo, apenas, da minh'alma...
E, em vez de te encarar com mente calma,
Sobressalto-me ao ver-te, e tremo e exoro-te!

Falo-te... calas! - calo... e vens atento! -
És um pai, um irmão... e é um tormento
Ter-te a meu lado! - és um tirano... e adoro-te!

[*] erro ao copiar, seria "não"

A transcrição, seguindo a versão publicada nos Sonetos foi já publicada, aqui no Prosimetron, por Miss Tolstoi, no comentário colocado hoje dia 23 de Julho, pelas 13:03, no texto publicado no dia 14 de Julho, pelas 15.45.

Aqui fica para comparação, dado que é diferente.

"Sonetos completos":

LOGOS

Tu, que eu não vejo, e estás ao pé de mim
E, o que é mais, dentro em mim - que me rodeias
Com um ninho de afectos e de ideias,
Que são o meu princípio, meio e fim...

Que estranho ser és tu (se és ser) que assim
Me arrebatas contigo e me passeias
Em regiões inominadas, cheias
De encanto e de pavor... de não e sim...

És um reflexo apenas da minha alma,
E em vez de te encarar com fronte calma
Sobressalto-me ao ver-te, e tremo e exoro-te...

Falo-te, calas... calo, e vens atento...
És um pai, um irmão, e é um tormento
Ter-te a meu lado... és um tirano, e adoro-te!

ANTERO DE QUENTAL

7 comentários:

  1. Açoriano, só podia...
    M.

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  2. Iau! Esta era só para especialistas, anh?! Mas enganou-se. Tocou-me num ponto fraco: Antero!

    Houve uma altura em que pensei que me tinha enganado… Mas não!
    E o prémio? Não respondeu! Não há prémio? Não há justiça neste mundo!

    Já agora deixo aqui o poema em resposta a uma pergunta que o Jad fez.

    NA MÃO DE DEUS

    Na mão de Deus, na sua mão direita,
    Descansou afinal meu coração.
    Do palácio encantado da Ilusão
    Desci a passo e passo a escada estreita.

    Como as flores mortais, com que se enfeita
    A Ignorância infantil, despojo vão.
    Depus do Ideal e da Paixão
    A forma transitória e imperfeita.

    Como criança, em lôbrega jornada,
    Que a mãe leva no colo agasalhada
    E atravessa, sorrindo vagamente,

    Selvas, mares, areias do deserto…
    Dorme o teu sono, coração liberto,
    Dorme na mão de Deus eternamente!

    Antero de Quental

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  3. O prémio é vir hoje jantar com uma série de amigos que gostavam muito de a conhecer! Aceita?

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  4. Jantar, anh? Pensei que se preparava um banquete...
    E afinal quem eram os premiados? Eu ou vocês? Ambas as partes? Até podíamos todos ter uma grande desilusão.
    Continuo a dizer que não acho justo. Com a proposta que lhe fiz, ainda talvez me viesse a conhecer... Pense bem!

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  5. Um verso popular: "Pense! pense bem! se me caso e ele não tem"

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  6. Dito popular:

    - Ai! mãe que coisa que o pai tem!

    - Cala-te filha! que é só para a mãe!

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