quarta-feira, 1 de julho de 2009

A propósito dos Impressionistas


Renoir- Retrato de Paul Durand-Ruel
Óleo sobre tela, 1910




Berthe Morisot – Na casa de jantar
Óleo sobre tela, ca 1875
«A Rue Le Peletier anda com azar. Depois do incêndio da Opera, um novo desastre se abate sobre o bairro. Abriu na Durand-Ruel uma exposição, que consta ser de pintura. O passante incauto, atraído pelas bandeiras que decoram a fachada, entra e, aos seus olhos espantados, oferece-se um espectáculo cruel. Cinco ou seis alienados, entre os quais uma mulher, um grupo de infelizes acometidos pela loucura da ambição, reúnem-se ali para expor as suas obras.
«Há pessoas que se desmancham a rir diante daquelas coisas. Os alegados artistas intitulam-se Intransigentes; pegam em telas, tintas e pincéis, atiram para ali uns tons ao acaso e no fim assinam. É assim que no hospício de Ville-Évrard mentes alienadas apanham os calhaus do caminho e acham que encontraram diamantes. Pavoroso espectáculo de vaidade humana que atinge o ponto da demência. Vá o leitor explicar ao Sr. Pissarro que as árvores não são violetas, que o céu não é tom de manteiga fresca, que em nenhum lugar do mundo se vêem as coisas que ele pinta e que nenhuma inteligência pode aceitar tais desvarios! Ou tente fazer entender a um doente do Dr. Blanche, que acha que é o papa, que ele vive nas Batignolles e não no Vaticano. Tente então chamar à razão o Sr. Degas; dizer-lhe que na arte há algumas qualidades que têm nome: o desenho, a cor, a execução, a vontade. Ele ri-se na sua cara e chama-lhe reaccionário. Ou procure explicar ao Sr. Renoir que o torso de uma mulher não é uma amálgama de carnes em decomposição com manchas verdes violáceas que num cadáver denotam o estado de completa putrefacção! No grupo há também uma mulher Berthe Morisot e é interessante observá-la. Nela a graciosidade feminina mantém-se no meio dos excessos de um espírito delirante.
«E é este amontoado de coisas grosseiras que se expõe em público sem pensar nas consequências fatais que daí podem advir. Ontem, foi preso um pobre homem que, à saída desta exposição, mordia os traseuntes.»
(Le Figaro, Paris, ca 1871)

4 comentários:

  1. Quando abri a caixa dos comentários, foi sob o impulso de escrever "que maravilha de texto!" Muito me surpreendi ao ver as palavras já escritas, pelo que as subscrevo humildemente...

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  2. Pissarro deu um murro a um sujeito que chamou "galdéria" a Berthe Morisot. Um dia destes voltarei a este grupo.

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  3. Gosto imenso do som da palavra "galdéria".

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