Faz hoje precisamente 300 anos que o Padre Bartolomeu de Gusmão efectuou o terceiro lançamento de balões a ar quente, perante D.João V e a sua corte, na Sala das Embaixadas da Casa da Índia. Infelizmente, o mecenato real que dava pensões e mercês por tudo e por nada, não foi generoso com o Padre Voador, como ficou para sempre conhecido este pioneiro do voo em balões:
" (...) Portugal, o país onde ocorreu tão heterodoxo desafio ao « impossível », não soube valorizar a ousadia, desprezando-a e cedendo a outros europeus- os irmãos Montgolfier, mais de sete décadas depois ( 1783 )- a primazia no voo humano.
De nada valeram a Bartolomeu os seus entusiastas protectores, o duque de Cadaval e o marquês de Fontes, que acalentavam usufruir um dia deste « estupendo arbítrio que em oito dias poderia mandar avisos ao Brasil, em poucos mais à Índia, em três dias a Roma e em uma hora às fronteiras do reino » .
Com efeito, no Portugal sonâmbulo e peripatético de 1709, totalmente alheio às ciências físicas experimentais, não houve ninguém capaz de avaliar em termos científicos o que realizara Bartolomeu de Gusmão sob o ponto de vista da primeira demonstração prática do princípio da mecânica de Arquimedes aplicado aos fluidos aéreos. Reduziu-se o facto às saloiadas « poéticas » dos Pinto Brandões e similares, supersticiosos filhos do Santo Ofício que fecundaram os nossos seculares anacronismos culturais e estruturais. "
- Joaquim Fernandes, O padre voador no país da ingratidão, na Visão desta semana.
Também tenho este episódio muito presente no meu imaginário (além de ter a data apontada no calendário): "The only that might surprise one is how little the world changes...".
ResponderEliminarAinda para mais na nossa terra, em que parece que se desafia Lavoisier: tudo se perde, nada se transforma.
Feliz 300º aniversário para o enorme potencial desperdiçado pela estupidez e politiquice mesquinha do momento, que foi engolido pelas brumas do esquecimento.
Tristemente verdade.
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