Ando a ler (e estou a gostar) A lamparina de prata, que foi aqui trazida ao blogue pelo Luís. É deste livro a seguinte transcrição, parte de uma situação vivida em Lisboa, na sequência de uma desvalorização de moeda ocorrida no tempo de D. Fernando:
«E os pasteleiros, que preparam os deliciosos doces e as guloseimas a partir de muitas gemas, muito mel, amêndoas, nozes e gengibre, negaram-se a vender a sua mercadoria e a sua arte ao desbarato. Nas tabernas e adegas à volta do mercado ainda se gastava dinheiro em bebedeiras que acabavam sempre em brigas sangrentas. Os clientes viravam as mesas de pernas para o ar, quando o taberneiro apresentava a “continha”, como dizemos, pois somos o povo mais bem-educado da cristandade. (Seria pouco delicado dizer simplesmente “avó” ou “leite” em vez de “avozinha” e “leitinho” e daríamos provas de insensibilidade se chamássemos simplesmente “pássaros” às graciosas cotovias, aos rouxinóis e às andorinhas, cujo regresso às regiões setentrionais tentamos impedir, e não, carinhosamente, “passarinhos”).»
Reinhold Schneider
In: A lamparina de prata / trad. Anneliese Mosch. Évora: Evoramons, 2009, p. 34-35
Realmente temos uma tendência para o diminutivo. Curiosamente este sufixo tanto pode exprimir afeição, como transmitir um sentido pejorativo: amorzinho, chatinho… Tudo muito queridinho.
«E os pasteleiros, que preparam os deliciosos doces e as guloseimas a partir de muitas gemas, muito mel, amêndoas, nozes e gengibre, negaram-se a vender a sua mercadoria e a sua arte ao desbarato. Nas tabernas e adegas à volta do mercado ainda se gastava dinheiro em bebedeiras que acabavam sempre em brigas sangrentas. Os clientes viravam as mesas de pernas para o ar, quando o taberneiro apresentava a “continha”, como dizemos, pois somos o povo mais bem-educado da cristandade. (Seria pouco delicado dizer simplesmente “avó” ou “leite” em vez de “avozinha” e “leitinho” e daríamos provas de insensibilidade se chamássemos simplesmente “pássaros” às graciosas cotovias, aos rouxinóis e às andorinhas, cujo regresso às regiões setentrionais tentamos impedir, e não, carinhosamente, “passarinhos”).»
Reinhold Schneider
In: A lamparina de prata / trad. Anneliese Mosch. Évora: Evoramons, 2009, p. 34-35
Realmente temos uma tendência para o diminutivo. Curiosamente este sufixo tanto pode exprimir afeição, como transmitir um sentido pejorativo: amorzinho, chatinho… Tudo muito queridinho.
Este também irá enriquecer o Evereste.
ResponderEliminarE que bem percebeu isso o Alexandre O'Neill.
ResponderEliminarPortugal em diminutivo. Fantástico!
ResponderEliminarNo Prosimetron: bloguinho.