Florbela Espanca no Parque dos Poetas , em Oeiras.
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O Inventor
"(...) Das folhas arrancadas aos cadernos de contas e aos livros, faz espectaculosos chapéus armados de almirante, constrói frotas poderosíssimas, que põe a navegar no mar largo duma grande barrica, onde a professora guarda a sua provisão de água com que, ao cair da ardente tarde alentejana. mata a sede às violetas e aos lírios do seu pequeno jardim de padre-cura.
Adormece, abraçado a um barco de cortiça e velas de pano-cru, que o pai lhe deu num dia de anos. Os presentes de Ataxerxes fá-lo-iam sorrir de desdém perante a dádiva principesca.
Já homenzinho, nas noites longas de Inverno, acocorado à chaminé onde o madeiro crepita, lê embevecido, horas a fio, todo o Júlio Verne, histórias de piratas e corsários; o navio-fantasma enfeitiça-o; os naufrágios heróicos entusiasmam-no; foi durante anos todos os capitães de navios naufragados, morrendo no seu posto, aos vivas a Portugal!"
Florbela Espanca, as máscaras do destino, Lisboa: Bertrand, 1979, p. 125
Escultura de Francisco Simões.
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