" No Outuno de 1995, o Metropolitan Opera House, de Nova Iorque, organizou uma gigantesca festa de homenagem pelos 25 anos do maestro James Levine como director musical da instituição. Vieram os mais célebres cantores e cantoras do mundo, cada um cantando uma ária, sendo a orquestra da casa regida pelo próprio homenageado.
(...) Eu não conhecia ninguém. Mas vim a perceber, ao longo da noite, que os meus convivas eram o presidente e os vice-presidentes do Metropolitan, bem como os membros dirigentes do respectivo comité de angariação de fundos ( que arranja, normalmente, 10 milhões de contos por ano em donativos... ).
Todos muito simpáticos, de smokings pretos e brancos, acompanhados de mulheres gordas e magras, velhas e novas, feias e lindíssimas! ( Pensei para comigo: il catalogo é questo. )
Posso garantir a todos os meus leitores que, apesar de ter então 54 anos de idade e uma carreira cheia de eventos, nunca me senti tão infeliz, tão desorientado, e tão incapaz de entrar numa conversa, como naquela noite, no meio daqueles riquíssimos melómanos.
Apenas uma pequena amostra da conversa, durante o peixe, aliás magnífico:
- Frank ( dizia a minha vizinha da esquerda), não imaginas o que perdeste na semana passada em Berlim: foi a melhor Ariadne do Strauss que eu ouvi na minha vida!
- Ó querida ( respondeu o Frank ), eu não pude lá ir porque estava em Viena para a 5ª do Mahler com o Abbado. Divinal!
- Ah, mas isso não é nada ( interveio o senhor mais gordo dos dez ): vocês perderam a melhor ópera de sempre- o Fidélio em Paris, com o Maazel.
- Ai sim? ( comentou outro, muito blasé ) . Pois eu não fiquei nada mal servido. Na mesma semana estive em Amsterdão, no Concertgebouw, a ouvir, durante cinco noites seguidas, a integral das sinfonias de Beethoven dirigidas pelo Harnoncourt. O homem é um génio!
E assim por diante, num ritmo vertiginoso... Era de tirar o fôlego! (...) "
- Diogo Freitas do Amaral, A snobeira dos melómanos, in Ao correr da memória, Bertrand Editora, 2003.
Esclareço: Veio-me ontem à memória este texto numa conversa sobre como a vida mudaria com os 77 milhões de euros do jackpot desta semana do Euromilhões...
voto no "Ah, mas isso não é nada ( interveio o senhor mais gordo dos dez ): vocês perderam a melhor ópera de sempre- o Fidélio em Paris, com o Maazel."
ResponderEliminarAchei graça ao texto.
ResponderEliminarConheço mal a escrita de Freitas do Amaral, dele só li D. Afonso Henriques.
O AUTOR NÃO É MENOS SNOB. E PELOS VISTOS MUITO IGNORANTE!
ResponderEliminarNão me parece que o Prof.Freitas seja assim tão ignorante, quanto à eventual snobeira não fiquei com essa ideia quando fui aluno dele.
ResponderEliminar