quinta-feira, 15 de outubro de 2009
PARAÍSO : 1 - Onde conhecemos Pedro
Pedro não parava de chorar. Os fumos do acetileno ainda se faziam sentir. Oito horas a soldar peças de automóvel tinham este efeito, apesar da máscara.
Com um pai e um avô soldadores, foi este também o destino de Pedro quando bateu o recorde de faltas na sua secundária. Que podia ele fazer se nesse último ano em que foi às aulas o Colombo abriu portas? O Funcenter, o McDonald's e as inesgotáveis montras triunfaram sobre as aborrecidas aulas.
Descobertas as faltas, seguiu-se a maior tareia da vida de Pedro, com os gritos deste ouvidos em todos os oito pisos da Torre B da Quinta de Santa Filomena, bairro que conservava o nome da antiga quinta senhorial que durante séculos existira às portas de Lisboa.
Depois, veio o encaminhamento para a fábrica onde o seu pai trabalhava desde o início da idade adulta.
Deitado no sofá da sala, com uma rodela de batata crúa em cada olho, Pedro esperava que a habitual névoa se dissipasse e voltasse a ver claramente. E, como vinha fazendo há vários dias, convencia-se de que a sua vida tinha de mudar. Não queria ser soldador o resto da vida, martirizando os olhos oito horas por dia por uns magros 700 euros no fim do mês.
Não era assim que compraria um carro, muito menos uma casa. Decidiu-se : iria falar com o Quim, o Quim era a solução.
( cont. )
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