sábado, 17 de outubro de 2009

PARAÍSO : 3 - Carina

Quando a campainha tocou pela terceira vez, Carina percebeu que ia ter uma noite longa. Não era a primeira vez que isto lhe acontecia: uma enfermaria pacata com uma excepção à regra que atormentava as enfermeiras e os outros doentes de meia em meia hora.
Demorando o seu tempo, Carina dirigiu-se à enfermaria que lhe estava a cargo. Pensava em Pedro que ainda não lhe ligara. Viria buscá-la hoje?
Carina não morava longe do Amadora-Sintra, mas preferia que Pedro a viesse buscar já que as oportunidades para estarem juntos tinham diminuído com a quantidade de noites que lhe calhavam no hospital. Sina de recém-chegada à profissão. Mas antes noites que turnos nas urgências, embora mais tarde ou mais cedo fosse esse o seu destino temporário.
À porta da enfermaria 3, recebeu uma sms: " Hoje não dá. Depois explico. "
Carina guardou o telemóvel no bolso da imaculada bata e dirigiu-se à cama 6 :
- Sr. António, o que foi agora?
- Sra.Enfermeira, estou com uma grande falta de ar, uma grande falta de ar!
- Então já somos dois, Sr.António.
Seguiu-se a já habitual litania de queixas sobre os médicos, os hospitais, a comida nestes e a vida em geral. Queixas que Carina sabia, pelas auxiliares, que também se estendiam às enfermeiras em geral. Mesmo sem ser dada a grandes reflexões, designadamente relações de causa-efeito, Carina não deixara de associar as intermináveis queixas e reclamações do paciente da cama 6 a outro facto: era ele o único doente que não recebia visitas em toda a enfermaria.

( cont. )

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