quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Uma fruta paradisíaca acompanhada de Eugénio de Andrade.

Ofereceram-me dióspiros que, para além de parecer um fruto paradísiaco, é uma das minhas frutas outonais de eleição. Lembrei-me de Eugénio de Andrade e é desta forma que ofereço virtualmente um dióspiro...


No fim do verão

No fim do verão as crianças voltam,
correm no molhe, correm no vento.
Tive medo que não voltassem.
Porque as crianças às vezes não
regressam. Não se sabe porquê
mas também elas
morrem.
Elas, frutos solares:
laranjas romãs
dióspiros. Sumarentas
no outono. A que vive dentro de mim
também voltou; continua a correr
nos meus dias. Sinto os seus olhos
rirem; seus olhos
pequenos brilhar como pregos
cromados. Sinto os seus dedos
cantar como a chuva.
A criança voltou. Corre no vento.

Eugénio de Andrade, Sal da Língua Porto, Fundação Eugénio de Andrade, 1995

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