sábado, 21 de novembro de 2009

Erasmo


Hans Holbein - Erasmo de Roterdão
Óleo sobre tela, 1523
Paris, Museu do Louvre


«Comecemos […] por enunciar, com clareza e brevidade, a razão que faz ser-nos querido, ainda hoje – hoje principalmente – Erasmo de Roterdão, esse grande esquecido; ele foi, de facto, de todos os escritores e autores ocidentais, o primeiro europeu consciente, o primeiro “combatente pacifista”, o defensor mais eloquente do ideal humanitário, social e espiritual. E se foi vencido na luta por uma organização mais equitativa, mais racional do nosso mundo espiritual, a sua trágica sorte não faz senão apertar mais os laços fraternais que nos ligam a ele.
«Erasmo amou muito as coisas que nos são queridas: a poesia e a filosofia, os livros e as obras de arte; as línguas e os povos, sem fazer diferença entre os homens, a humanidade inteira, conferindo a si próprio a missão de a educar moralmente.
«Ele não odeia na Terra senão uma coisa, porque ela lhe parece a negação da razão: o fanatismo. [...] Erasmo via na intolerância o mal hereditário da nossa sociedade. Tinha a convicção de que seria possível pôr fim aos conflitos que dividem os homens e os povos, sem violência, por mútuas concessões, porque eles dependem todos do domínio do humano [...]. A liberdade de consciência era para ele uma coisa natural e, aos olhos desse espírito livre, logo que um homem, padre ou professor, subia ao púlpito e começava a ensinar a sua verdade, como se fosse uma mensagem que Deus lhe tivesse comunicado ao ouvido, e só a ele, via aí um atentado contra a divina diversidade do Mundo. [...]
«Pôr harmoniosamente de acordo os contrastes do espírito humano - tais foram a missão e o sentido da vida de Erasmo.»
Stefan Zweig
In: Erasmo de Roterdão / trad. Alice Ogando. Porto: Civilização, 1979, p. 9-12

3 comentários:

  1. Talvez seja altura de reler um e outro.Obrigado,MR,pela lembrança.

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  2. Para já, só reli a biografia de Zweig. Quanto a Erasmo, de vez em quando, marcham uns bocadinhos.

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  3. Leio às vezes algumas passagens do "Elogio da Loucura". Um dia destes colocarei.

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