Será que ele ainda se lembra, como eu? Pois era aquilo um terror apanicado, que nos tolhia a ambos. Um silêncio que nos calava, constrangidos, talvez a pensar quem iria primeiro para o olho da rua. Quando chegava da imprensa Astória o novel número d’O Volante, o Mário Cesariny de Vasconcelos e eu, que éramos os esteios da Redacção daquele órgão de automobilismo, turismo e aviação […], percorríamos as páginas à procura da gralha, do disparate que nos lixasse de vez. O director, Campos Júnior, durante algum tempo ainda supus ser o autor daqueles romances históricos (Ala dos Namorados, Os Doze de Inglaterra) que lera na infância, o nosso director e também o proprietário era exigentíssimo… mas só com os anúncios. Felizmente. Ou, decerto, não teria admitido dois sujeitos que de automobilismo nada percebiam. Poderei estar enganado: a minha só vantagem sobre o Mário era que eu sabia andar de bicicleta e ele acho que nem isso. Mais: eu comprara com uns dinheiros roubados uma moto BSA 2,5, LI – 5736, ao stand Vidal, coisa (ostentação de bens, em desmesura com os ganhos reais – fenómeno social muito em prática nos tempos que correm) que ia dando bronca.
As nossas aventuras naquele emprego maluco ainda agora me divertem. Havia, claro, quem ali percebesse de carros, era o Hélio Esteves Felgas. Nós limitávamo-nos às tarefas menos nobres, coisas de pacotilha, traduções, revisão tipográfica. E mesmo assim! Tenho contado isto: não querem acreditar-me! O Poeta Mário Cesariny de Vasconcelos e o Pacheco a fazerem a cobertura jornalística do circuito de Monsanto, na época a grande prova nacional, equivalente aos giros no autódromo; os Mil Quilómetros do Benfica, o Rally Shell e tantos mais. Não sei se alguma vez o Mário entrevistou o Fangio. Como sabia espanhol, seria ele o indicado. E como se desenrascaria? Lembro como eu fazia, em Monsanto: ia para junto das «boxes». Escutava, feito SIS, os comentários técnicos da malta. Registava. E trazia tudo para a minha reportagem. Ah, e antes que me esqueça, foram tempos esses que recordo com ternura. Havia mais companheiros: o Vítor Direito, estudante ainda; o João Alves das Neves, o José de Freitas. Acima, muito acima, o Cesariny, foi quando lhe editei o Manual de Prestidigitação e nos dávamos como irmãos.
As nossas aventuras naquele emprego maluco ainda agora me divertem. Havia, claro, quem ali percebesse de carros, era o Hélio Esteves Felgas. Nós limitávamo-nos às tarefas menos nobres, coisas de pacotilha, traduções, revisão tipográfica. E mesmo assim! Tenho contado isto: não querem acreditar-me! O Poeta Mário Cesariny de Vasconcelos e o Pacheco a fazerem a cobertura jornalística do circuito de Monsanto, na época a grande prova nacional, equivalente aos giros no autódromo; os Mil Quilómetros do Benfica, o Rally Shell e tantos mais. Não sei se alguma vez o Mário entrevistou o Fangio. Como sabia espanhol, seria ele o indicado. E como se desenrascaria? Lembro como eu fazia, em Monsanto: ia para junto das «boxes». Escutava, feito SIS, os comentários técnicos da malta. Registava. E trazia tudo para a minha reportagem. Ah, e antes que me esqueça, foram tempos esses que recordo com ternura. Havia mais companheiros: o Vítor Direito, estudante ainda; o João Alves das Neves, o José de Freitas. Acima, muito acima, o Cesariny, foi quando lhe editei o Manual de Prestidigitação e nos dávamos como irmãos.
Luiz Pacheco
In: Diário Económico, Lisboa, 26 Jul. 1995
Esta escrita,esta vivacidade "botam a gente comovida como o diabo."
ResponderEliminarObrigado,MR.
E imaginar os dois na redacção d'O Volante? E a fazerem reportagens de corridas de automóveis e a entrevistar o Fangio?
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